É chegado o momento das comemorações de fim de ano!
Reza a lenda natalina que todos devem colocar suas meias na lareira para que Papai Noel possa colocar os respectivos presentes em cada uma delas. Mesmo em se tratando de um país tropical (“...abençoado por Deus e bonito por natureza...”), o imaginário infantil, quer seja alimentado pela indústria Disney ou por seus genéricos, é constantemente bombardeado por esses estrangeirismos.
Outra lenda diz que os bons meninos e as boas meninas receberão o presente por terem cumprido sua obrigação moral.
Esse preâmbulo foi carinhosamente preparado para colaborar na compreensão da frágil situação vivida por José Roberto Arruda, atual governador do Distrito Federal, eleito pela coligação “Amor por Brasília”, composta pelos seguintes partidos: PP / PTN / PSC / PL / PPS / PFL / PMN / PRONA.
Como é sabido por todos, José Roberto Arruda foi filmado recebendo dinheiro e, posteriormente, denunciado como “cabeça” de um esquema de corrupção denominado pela imprensa burguesa como “Mensalão do DEM” ou “Mensalão do DEMO”, cujo título não passa de mais uma verborragia para desviar atenções e/ou vincular coisas (no formato) nem tão parecidas assim.
Não vou aqui relatar o caso, pois quem se interessar e ainda não tomou conhecimento, pode encontrar na internet, jornais, revistas, TV e rádio dezenas de reportagens sendo escritas sobre o assunto.
Contudo, é importante lembrar que a denúncia novamente, como em casos anteriores, só surge quando integrantes do esquema encontram-se insatisfeitos com seu quinhão no esquema. Surge aí a figura do “boa-vida” Durval Barbosa, seu ex-aliado e ex-secretário de Relações Institucionais, beneficiando-se da delação premiada!
É também verdade que existe a Operação Caixa de Pandora, uma investigação sobre esses atos criminosos, realizada pela Polícia Federal. Mas sabemos que todas as polícias desenvolvem seu papel até o momento em que os poderosos permitem.
Por outro lado, a cultura de “caguetagem” no país é uma das piores opções históricas a que recorremos. Recebe-se prêmios por entregar parceiros de longa data, dedicados às atividades lícitas ou ilícitas.
Judas se matou por entregar seu mano (Jesus) por vinte moedas, além de tantos outros que não suportaram a condição de alcaguete e também deram cabo de suas vidas ou se autoflagelaram até seu triste final. Mas, aqui, a tradição é a da traição, ou seja, premiar os que entregam familiares, amigos e parceiros à sanha de sua fria vingança.
Voltando ao governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda, lembro-me dele envolvido no caso da manipulação dos painéis em votações no Senado, juntamente com Antônio Carlos Magalhães. Nessa época, Arruda pertencia aos quadros partidários do PSDB. Deixou a sigla, mas continuou no mesmo campo político.
Além dos maços de dinheiro entregues a Arruda e seus comparsas, ainda existem deputados do DF que recebiam grana do esquema, um deles tendo sido filmado guardando sua porção nas próprias meias (lembra-me outro caso!).
As explicações mais esdrúxulas são sempre as primeiras a serem apresentadas, tais como: trata-se de um complô armado por um petista suíço (homenagem ao ‘construtor’ do Minhocão), edição de imagens, eu não sabia de nada, era para comprar panetones, etc e tal.
Seu vice-governador, Paulo Octávio, é dono de conhecida empresa do ramo de construções e figurinha carimbada em lobbies pela capital federal. Importante notar que as empresas da família do governador e de seu vice lucraram por meio de contratos com o poder público local. Isso sem considerar as artimanhas utilizadas para aprovarem o Plano Diretor da região, além dos respingos em outras administrações do DEM-PSDB-PFL-ARENA, também na gestão de Kassab na capital paulista.
Esses epsódios recorrentes em nossa história, fazem-me lembrar duas obras, uma de Michel Foucault (Microfísica do Poder) e outra de Raymundo Faoro (Os Donos do Poder), pois além de as tramas dessa teia de relações entre os agentes da corrupção (sejam passivos ou ativos) estarem espalhadas por diversas esferas de nossa sociedade, nota-se que, salvo uma ou duas exceções, os donos do País continuam sendo os mesmos, independente de quem governa, pois trata-se de um poder político acima dos político-partidários.
Resta-nos pendurar nossas meias e aguardar nossa ilusão natalina, esse período em que se renovam as esperanças sem fundamento, esperando cair do céu as mudanças que devemos nós mesmos fazer acontecer.
Em 2010, defendo Saci para deputado federal!
Pelo menos, caso ele venha a usar meia, será apenas uma!
Saudações incorruptíveis…
Caro resistente.
ResponderExcluirComo sempre o Ilmo. exprimindo um pouco da indignação que cada cidadão pensante brasileiro sente.
Palavras estas que demonstram a imensidão semântica dos signos. A expressão apaixonada de um altruísta incompreendido.
Muita força, meu amigo.
A senda é longa e espinhosa, porém saiba que as pontas lancinantes destes algozes só alimentarão nossos pensamentos e ideias, pois isso nunca será retirado de nós.
A terra absorverá o sangue dessas carnes fétidas e o transformará na seiva da flor que colorirá o caminho de uma sociedade livre destes vermes.
Após devaneios poéticos, embora não seja um poeteiro, vou pendurar minhas meias no portão, pois aqui não há lareira. Espero que ninguém as leve embora.
Para contribuir com o momento cultural de hoje, recomendo assistirem ao ótimo filme V de Vingança. Às vezes acho que é assim que tem que ser.
Abraços fraternais.
Vaz Folder
Olha só... Foucault... Li uma obra sobre a Loucura dele... Muito bom... Enfim... Difícil comentar diante essas "obras" dos governantes... Difícil não?
ResponderExcluirVocÊ também deveria escrever sobre o comentário do Robbin Willians sobre a escolha do Brasil... Aliás, nem sobre o comentário dele, pois aquilo foi uma piada realista, uma piada normal e ao meu ver MUITO VERDADEIRA... Você deveria comentar sobre os comentários dos brasileiros, sobre a indignação dos brasileiros com essa piada... Resultado: PURA HIPOCRISIA, visto que os brasileiros deixam esses governantes esconderem dinheiro PÚBLICO na meia, na mala, em casa, em imóveis.... E quando um americano faz uma piada sobre tudo isso, as pessoas se acham no direito de se ofenderem... Esse país é uma piada...
Sempre te acompanho... Beeeeijos Vatinho...
Aline!
Obrigado pelas carinhosas e sóbrias palavras do amigo Vaz e da querida prima Aline!
ResponderExcluirEnquanto continuarmos a nos indignar, a meu ver, tratará de duas hipóteses: a primeira de que existem pessoas que se rebelam diante dessas atrocidades; a segunda que, apesar de nossa indiganação, ainda não vencemos as batalhas necessárias.
Abraços e obrigado!