segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Sobre muros visíveis e o isolamento quase invisível – um pouco de história




“História é passado e presente, um e outro inseparáveis.”


Fernand Braudel



“Existe uma civilização mundial, saída da civilização ocidental, que desenvolve o jogo interativo da ciência, da técnica, da indústria e do capitalismo e que comporta um certo número de valores padronizados.”

Edgar Morin
O ano de 2009 marca os 20 anos de fatos históricos pelo mundo e pelo Brasil, portanto, mesmo agora em seu crepúsculo, gostaria de dividir com meus amigos leitores algumas reflexões sobre alguns desses eventos.

Nessa conversa gostaria de refletir sobre a queda do muro de Berlim, a reunificação e o fim da Guerra Fria. Eventos esses interligados e que são utilizados maldosamente e intencionalmente pela nação dos cães infiéis (EUA) e por seus boçais aliados para decretar a morte do Socialismo.

Antes mesmo da rendição alemã e do fim da Segunda Grande Guerra, os líderes das três principais potências mundiais (Churchill/Inglaterra, Rooselvet/EUA e Stálin/URSS) reuniram-se em fevereiro de 1945 em Yalta (Ucrânia) para redefinir o mapa europeu no pós-guerra. Formalizaram tal divisão na Conferência realizada em Potsdam (Alemanha), incorporando no tratado a França (também vencedora da guerra) em julho de 1945. Sendo o país derrotado dividido em 4 zonas de ocupação, uma para cada uma das nações vitoriosas.

Em 1949 o território alemão passou a ser dividido em dois países, República Federal Alemã (Alemanha Ocidental) e República Democrática Alemã (Alemanha Oriental). O primeiro sob a tutela dos EUA e o segundo sob a égide do socialismo soviético. Inclusive a capital até o momento, Berlim, foi dividida entre as duas potências. Não seria diferente, pois o clima de hostilidade se acirrou também em função dessa disputa.

Com altos investimentos na região para a recuperação européia e, sobretudo, na Alemanha Ocidental, sua nova vitrine capitalista, houve rápida modernização e as novidades em forma de rótulos e a chegada de produtos do “american way of life” promoveram grande migração da população da porção oriental para a ocidental. Entre 1952 e 1961, calcula-se a migração de aproximadamente 2,5 milhões de pessoas, buscando o “sonho americano”.

Para evitar que a sedução da propaganda capitalista acabasse por arruinar os planos soviéticos de influência na Europa, em 1961 decidiu-se criar algo que impedisse a fuga em massa. Inicialmente foi construída uma cerca, passando, com o tempo, a se estabelecer uma engenharia para bloquear o contato entre as Alemanhas. Era o muro de Berlim sendo erguido, acompanhado por alambrados, torres de vigilância e zonas minadas. Muitos perderam a vida tentando a travessia, é verdade.

Não se trata aqui de defender a construção, manutenção do muro ou de justificar a separação de famílias, mas de pensar que a construção efetiva do muro pelos orientais se deveu também a movimentação do lado ocidental, o qual fazia de tudo para evitar o perigoso avanço comunista, segundo sua visão. É importante contextualizar e pesar as peças do jogo da Guerra Fria, a qual, aliás, espalhou-se pelo mundo com outras formas, mas na mesma perspectiva de segregação de acordo com os interesses dos poderosos locais e globais.

Os vitoriosos do continente americano da Segunda Guerra tiveram o bônus de não terem a guerra em seu território, tendo suas perdas materiais minimizadas. Essa tática foi reutilizada na Guerra Fria. Vietnã, Coréia, conflito Irã-Iraque e demais países foram destruídos, inclusive sua população, sem maiores perdas além das consideradas militares por parte das duas grandes potências. Por isso guerra fria e não quente, pois os dois gigantes dissimulavam sua participação utilizando-se, sempre que possível, dos apoios locais.

Em razão dos desgastes e fracassos e das transformações realizadas na URSS, principalmente pela perestroika (liberalização econômica) e da glasnost (abertura política), os rumos do muro e da Alemanha modificaram. Após essas reformas, ocorre a abertura das fronteiras (09/11/1989) e a reunificação das Alemanhas em 03/10/1990.

De lá para cá, as diferenças entre os alemães que viveram de um lado e de outro persistem e ainda não se encontram bem integrados, afinal de contas o regime capitalista é débil nesse tipo de tarefa. Assim como o fim do apartheid não se resumiria ao simples ato de uma canetada. Tampouco a concentração de renda nos países pobres cessará apenas pela “boa vontade” dos defensores da liberdade.

Um cínico argumento utilizado pelos defensores da liberdade nesse período, criadores da Liga da Justiça para Alguns (ONU), está em clamarem pelo artigo 13 da Declaração Universal dos Direitos Humanos, desse mesmo organismo internacional de más intenções: “Toda pessoa tem o direito de sair de qualquer país, inclusive do próprio, e a regressar ao seu país”.

Será que é isso que vemos pela Europa e nos EUA?

A fronteira com o México e a maneira com que essas nações tratam os imigrantes é repugnante e em desacordo com qualquer um dos artigos de tal carta de direitos humanos. A meia dúzia de nações que têm poder de veto no Conselho de Segurança , mesmo em certa decadência em termos de hegemonia, é que detém a possibilidade de conduzir os destinos da humanidade. Tentam deter o crescimento de nações em desenvolvimento através de retaliações comerciais, militares e de ameaças veladas.

Aceitaremos a continuidade desse muro como obstáculo aos povos ou criaremos relações de cooperação entre os demais países para mudar nossa história e nos tornarmos novos atores (protagonistas) de nossos destinos?

Nostalgia dos muros visíveis e bem definidos...

América Latina unida!

Proletários do mundo, uni-vos!

Saudações da porção oriental...

12 comentários:

  1. Caro Valtex.

    A geopolítica mundial está se reestruturando e encaminhando para o fortalecimento dos blocos regionais.
    Somente desta forma, acredito eu, que haverá uma possibilidade de maior tendência ao equilíbrio no balanço de poder mundial.
    Entretanto, para isso temos que nos ajudar e compreender que a união de forças nos levará a uma maior capacidade de resposta. Por isso que sou a favor da Venezuela no Mercosul. Não somente ela, mas todos os outros países da América Latina, evidentemente que não a Guiana Francesa.
    Como cidadãos somos parte deste esforço conjunto, pois devemos continuar pressionando e fiscalizando os representantes políticos, para que estes não vendam nosso país e subjuguem ainda mais este povo. Claro que existem outras demandas tão importantes quanto esta, mas é importante lembrar que se o povo for vendido, não existirá espaço para políticas sociais.
    No filme Avatar há uma frase que achei ótima: "Ao encontrar um povo que tem o que vocês querem, vocês logo o tratam como inimigos, arranjando justificativas para o destruírem."
    Essa é mais uma palhaçada que temos que combater.

    Abraços.

    Vaz

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  2. Jaque: Obrigado pela visita e pelo comentário, mas não te reconheci. Conheço você?
    Ah sim... já fui até a página que me indicou, muito bom!
    Beijo.

    Vaz: Você tem toda razão. Estratégia nessas horas são fundamentais. Contudo espero que façamos política diversa da dos cães infiéis, com integração cooperativa de verdade.
    Abraço.

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  3. * 1 - O comunismo não morreu por uma canetada dos EUA. Ele simplesmente implodiu por si mesmo... O verdadeiro cão infiel foi Gorbachev. Se os EUA pudsessem acabar com o comunismo via canetada, já teriam feito um segundo depois da Revolução Russa. E quem canetou mais? A caneta de Lênin era pesada. As crianças, filhas do Czar, que o digam. Pobres pescoços, camarada!

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  4. * 2 - A Alemanha foi derrotada e dividida, mas só os capitalistas investiram? A URSS investiu pesado também. A DDR era igualmente uma enorme vitrine comunista. Não existiam ingênuos nessa guerra. Nem o bem e nem o mal. Entende? O que unia as duas potências era o inimigo em comum (Hitler), depois que o Fuher foi morto, cada um tratou de defender os seus interesses. Satanizar só um dos lados é um grande equívoco. O senhor acha que só a RFA estava destruída? Quem reconstruiu a DDR? Quem financiou a DDR? Não sejamos ingênuos. Guerra é guerra! Mesmo que de vitrines...

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  5. * 3 - O senhor vem me dizer que o Muro de Berlim foi construído para evitar a cooptação capitalista? Esse Muro foi uma das maiores vergonhas da humanidade. Construído por um ditadorzinho comunista alemão e financiado por um ditadorzão comunista soviético. Que regime é esse, tão libertário e justo, que coopta seus pares pela força das armas e muros? O senhor concorda com o Muro? Com o paredón de Fidel? Com os justiçamento do Lamarca?

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  6. * 4 - Caro Valter, o senhor como comunista convicto, deve explicar os motivos da falência do referido sistema e não jogar a culpa nos capitalistas. Faliu porquê? Por que faliu?

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  7. * 5 - Quando o senhor chama de cínicos os criadores da ONU demonstra coerência, pois a URSS também foi fundadora da ONU.

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  8. * 6 - O Muro do México também é vergonhoso. Mas sabe o que é mais podre? É impedir cidadãos de deixar uma nação. O Muro do México é lamentável, mais o de Berlim é insuperável.

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  9. * 7 - Sabe quando o capitalismo vai acabar? Quando o último homem for exterminado da face da Terra. Os chineses entenderam muito bem isso! Aliás, qual seu conceito sobre o "comunismo" chinês?
    Caro Valter, pare de bradar por Che Guevara! Vamos jogar o jogo e aperfeiçoar as regras e a justiça social. Não existe igualdade e sim semelhança, por isso que o comunismo é débil. Tudo que emana da igualdade é desumano. Pelo estado forte e justiça social! Com respeitos, do amigo Rodrigo!

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  10. Ao caro amigo Rodrigo:

    Considerações sobre suas ponderações em número cabalístico (sete):

    1- Nunca disse que o comunismo morreu por canetada (e nem que morreu, pelo contrário, o sonho não acabará!);
    2- Todos investiram em suas vitrines, contudo os EUA estavam menos avariados em função de não terem sofrido com a guerra em seu território, portanto tinham maiores recursos. Além disso, Hitler não era inimigo por causa do nazifascismo, mas por suas pretensões expansionistas que incomodaram os dois lados;
    3- O muro foi realmente uma vergonha, de ambos os lados. Fidel e Lamarca são dois grandes companheiros. Cuba vive até hoje sob o embargo da ONU orquestrado pelos EUA , mesmo assim obtendo os melhores resultados em saúde e educação públicas. Lamarca foi perseguido e morto pelo regime militar, com anuência da elite e da classe média brasileiras e não o contrário.
    4- O socialismo soviético e de seus satélites, chamado real por alguns historiadores, faliu por suas sociedades serem fortemente fundadas em culturas autoritárias e, algumas delas inclusive, terem acabado recentemente de sair do que consideraria condições medievais de governo e costumes. Esqueceram da tarefa que Marx nos incumbiu de criar “o novo homem”;
    5- Sim, realmente, caso não esteja enganado, a ONU foi criada em conferência nos EUA (1945) com a concordância de aproximadamente 50 países, inclusive os vencedores da 2ª Guerra (Brasil, inclusive). Isso não modifica seu caráter cínico e favorável aos países ricos em prejuízo dos pobres. Ou o amigo acha que ONU presta bons serviços à Humanidade? E o Conselho de Segurança (com 5 países apenas!) que impede a participação mais ampla dos, atualmente, 192 países membros? O sr tem a coragem de defender esse oligopólio?
    6- Não acho realmente que o muro de Berlim seja mais vergonhoso do que o da fronteira com o México, pois os estadunidenses, em épocas mais abastadas (se) aproveitaram bem da mão de obra ilegal dos latinos que para lá foram, deixando com que fizessem os trabalhos que eles não mais queriam executar, tal como lavar banheiros, pilotar fogões em lanchonetes e serem babás e trocarem fraldas sujas de seus filhos. Muitos fugidos das ditaduras que os cães infiéis apoiaram e financiaram em seus países de origem.
    7- Não sei quando o Capitalismo irá acabar, não sou Mãe Dinah, mas luto para que acabe esse sistema de perpetuação de injustiças sociais. Ele não terminará junto com a Humanidade, pois ele não existe desde sempre.
    Além disso, esse seu argumento de “naturalizar” algo cultural pertence aos que pretendem perpetuar tais injustiças. Não considero a China um regime comunista há muito tempo, é o país melhor integrado a nova realidade capitalista e penso que, embora exista o partido chamado comunista no comando, há apenas o dirigismo e burocracia estatais. Isso não é comunismo.
    Quanto a Che, ele é um grande exemplo revolucionário, sigo com ele até a vitória, sempre! E se jogar o jogo é tentar humanizar o capitalismo, trata-se de batalha perdida.
    Igualdade, sim! Todos devem ter oportunidades e direitos iguais. A semelhança é fingir ser parecido, é simulacro.
    Com amizade e respeito, Valter.

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  11. Oba!!!
    Adoro isso. Continuem, meninos! Pois é por meio de argumentos sólidos que se constrói um ideal.
    Confesso: aprendo muito com vcs!
    Que a sensatez e a sobriedade reinem em 2010!
    Bjo
    Leandra

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  12. Leandra
    Tenho sorte por ter sempre ótimos comentários de todos os generosos amigos. Caso não estivessem por aqui, não haveria motivo para manter o blog.
    Acredito que tem sido bom para todos. A
    Assim espero.
    Obrigado a todos!

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