domingo, 28 de fevereiro de 2010

Pax “brasiliana” - 140 anos na história!


Ao ler hoje ao caderno de Dinheiro da Folha de SP, deparei-me com um artigo do ex-ministro Rubens “Parabólica” Ricupero mencionando um tema interessante e instigante, qual seja os 140 anos de paz vivido nesse país. Evidentemente ele se referia aos conflitos externos com nossos 10 vizinhos, algo singular num mundo da ordem bélica e competitiva.

Com a morte de Francisco Solano López em 1º de março de 1840, colocava-se fim a uma guerra inglória (Guerra do Paraguai) e covarde reunindo vizinhos que não se davam, mas que se uniram (sob a benção inglesa) para destruir uma pequena e próspera nação que incomodava os interesses das metrópoles européias e do norte do continente.

A tão comemorada paz perpétua da diplomacia brasileira tem duas faces. É claro que viver num país de raros terremotos, tsunamis, tornados e conflitos bélicos tem suas vantagens, contudo essa imagem pra gringo deixar de mostrar os conflitos internos e nunca resolvidos nessas terras serenas.

Nossa marca diplomática nos trás diversos benefícios, mas será que realmente tínhamos necessidade de posicionamentos mais contundentes enquanto não éramos tão relevantes como somos agora? Ou estávamos alinhados automaticamente com as metrópoles ou temendo sofrer sanções de todo tipo ao se insurgir. Aliás, nossa elite não tinha o menor interesse nisso, pois detinha seus lucros através das migalhas caídas do prato dos grandes capitalistas.

No período mencionado por Ricupero não nos engalfinhamos com nossos vizinhos, mas as revoltas internas, greves, ditaduras e a desigualdade só se agravaram. Dentre os absurdos tupiniquins, somos o único país no mundo que não realizou Reforma Agrária, somos dos poucos que imaginam que paz sem justiça social seja possível e que acredita que o “Estado mínimo” possa sanar os problemas de corrupção e da burocracia.

Não sou defensor de que o Brasil se torne “ignorante” tal qual as nações hostis e expansionistas como nossos vizinhos do norte ou alguns países do velho continente, mas a opção diplomática brasileira deveria levar em consideração valores humanos e não a submissão. Aliás, quando as nações deixarem de tentar levar vantagem e promoverem trocas culturais e comerciais com base em preceitos de justiça, talvez possamos salvar o planeta e as espécies que nele vivem (incluindo-nos, Homo sapiens demens).


Saudações... e paz com justiça!

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Carne vale



Vai Passar

Chico Buarque
Composição: Chico Buarque e Francis Hime

Vai passar nessa avenida um samba popular
Cada paralelepípedo da velha cidade essa noite vai se arrepiar
Ao lembrar que aqui passaram sambas imortais
Que aqui sangraram pelos nossos pés
Que aqui sambaram nossos ancestrais
Num tempo página infeliz da nossa história,
passagem desbotada na memória
Das nossas novas gerações
Dormia a nossa pátria mãe tão distraída
sem perceber que era subtraída
Em tenebrosas transações
Seus filhos erravam cegos pelo continente,
levavam pedras feito penitentes
Erguendo estranhas catedrais
E um dia, afinal, tinham o direito a uma alegria fugaz
Uma ofegante epidemia que se chamava carnaval,
o carnaval, o carnaval
Vai passar, palmas pra ala dos barões famintos
O bloco dos napoleões retintos
e os pigmeus do boulevard
Meu Deus, vem olhar, vem ver de perto uma cidade a cantar
A evolução da liberdade até o dia clarear
Ai que vida boa, ô lerê,
ai que vida boa, ô lará
O estandarte do sanatório geral vai passar
Ai que vida boa, ô lerê,
ai que vida boa, ô lará
O estandarte do sanatório geral... vai passar


Não importa a versão histórica de nossa preferência, o relevante nessa festa chamada Carnaval, marca brasileiríssima tanto quanto o futebol, mesmo suas origens sendo ligadas ao velho mundo. A tal festa da despedida da carne e pela purificação de nossas almas fustigadas impressiona pela exuberância, pelo inusitado e pelo consumismo cultural que representa nos dias atuais.


Há controvérsias sobre a origem dessa festa, passando desde os primórdios da cultura ocidental lá na Grécia clássica, tendo outra versão remontando aos “gloriosos” dias do Império Romano ou, ainda, ao período do medievo na Europa das sombras e sob a tutela dos “Papas de Deus”. Mas, enfim, o que nos importa é saber o quanto de festa popular e de cultura de massas tem essa festa da carne.

A formação em sociologia e a militância política me deixam em uma verdadeira “sinuca de bico”, pois trata-se (ou se tratava) de evento pertencente ao folclore de nosso país e de outras localidades também, é verdade. Seja na “cidade luz” das máscaras, nas tradições sem samba em New Orleans, em recantos orientais ou nas diversas expressões carnalavescas de Pernambuco, Bahia, Rio de Janeiro, Minas Gerais, São Paulo ou na região amazônica, a população se esbalda nessa festa durante o período permitido pelas autoridades eclesiásticas, governamentais e pelos patrões.

Nunca fui grande entusiasta dessa festa, somente participei voluntariamente em tenra idade nos carnavais de rua no bairro da Lapa (desfiles na Rua Doze de Outubro) e em algumas matinês no SESI-Leopoldina, nada além disso. Bem, na verdade, estive no Anhembi há anos atrás e em ensaios de uma escola de samba da zona norte, mas puramente para agradar a dona do meu coração à época. Constatei que a bateria de uma escola de samba é algo sobrenatural, tendo vivido emoção sonora parecida somente quando ouvi os motores de um Fórmula 1 em Interlagos.

Os incômodos desse velho estão na comercialização do carnaval e seus agregados, na ditadura do samba enredo e dos desfiles durante esses dias. Não posso me esquecer da hipocrisia permissiva que representa essa data, além da suposta realeza apresentada nessa festa.

Não pertenço e nem pretendo pertencer a qualquer tipo de corte, até por não acreditar nesse tipo de sociedade e ser feliz por estar livre desse tipo de julgo (ao menos supostamente! rs). Assim como Pelé, Roberto Carlos e Xuxa não serem por mim considerados de qualquer realeza.

Os meios de comunicação, controlados por nosso Big Boss capitalista, adora esse tipo de alienação por poder manipular alegremente e impor a todos a obrigação da felicidade em forma de consumo e abuso. Comércio sofisticado e rasteiro no mesmo produto!

Por final, a Santa Amada Igreja, do alto de sua magnificência inquisidora, permiti-nos abusos para que possam vender o perdão em prestações. Quer pagar quanto? Ou os irmãos mais novos da Santa Inquisição, sejam pentecostais ou não, condenam a festa como algo criado pelo demônio, comportamento comum a seus pastores, bispos e apóstolos, emaranhados na gula, na avareza, na inveja, na ira, na soberba, na luxúria e na preguiça.

Para evitar um fim tão triste quanto o de Policarpo Quaresma, prefiro valorizar as questões culturais de todos os povos, todavia raciocinando sobre os valores, costumes e interesses impregnados nessas formas de expressão humana, não participando de um consenso automático, burro e imposto pelos poderosos da economia mundial.