sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Espírito (do Capitalismo) natalino


 Trechos da música:      Comida

Titãs - Composição: Arnaldo Antunes / Marcelo Fromer / Sérgio Britto

Bebida é água!
Comida é pasto!
Você tem sede de que?
Você tem fome de que?
A gente não quer só comida
A gente quer comida
Diversão e arte

A gente não quer só comida
A gente quer saída
Para qualquer parte...
A gente não quer só comida
A gente quer bebida
Diversão, balé
Comida é pasto!
Você tem sede de que?
Você tem fome de que?...
A gente não quer só comer
A gente quer comer
E quer fazer amor
A gente não quer só comer
A gente quer prazer
Prá aliviar a dor...

A gente não quer
Só dinheiro
A gente quer dinheiro
E felicidade
A gente não quer
Só dinheiro
A gente quer inteiro
E não pela metade...

Diversão, balé
Como a vida quer
Desejo, necessidade, vontade
Necessidade, desejo, eh!
Necessidade, vontade, eh!
Necessidade...

Inicialmente quero avisar ao amigo leitor que, caso seja apegado demais ao cerimonial natalino, abandone nesse instante a leitura desse texto, pois caso retruque esse conselho, poderá passar a nutrir sentimentos rudes por esse pobre infeliz. Tenho certeza de que nem eu e nem o amigo leitor tem isto como objetivo, por certo!

Àqueles que decidiram por vontade própria prosseguir, peço a gentileza em não levar a mal essas breves considerações que aqui constarão. Prometo (e o leitor verá por seus próprios olhos) que não vou e nem pretendo ferir a fé de tão ilustres amigos. Mesmo porque, pelo menos alguns de vocês, sabem do meu apreço pelo marxismo e pelo cristianismo.
Pois bem! Feitas as explicações e advertências preliminares, vamos ao assunto deste colóquio do “anti-cerimonial natalino”.
Todos sabem que o Natal é a celebração da cultura cristã em razão do nascimento do Cristo (redentor da Humanidade). Repleto de simbolismos de outras eras do cristianismo oficial, nos dias atuais o foco das comemorações sofreu alterações para acomodar os diversos interesses sociais.

A religião já foi nomeada como o ópio do povo, mas o entorpecente mais poderoso ainda é o poder. E “digo” isso pela maneira mesmo com o que os poderosos desde o princípio se apoderam das tradições religiosas ou laicas e as pasteurizam e modificam de acordo com seus interesses de manutenção no poder.
O Império Romano, depois de deixar sua idiota fome por destruir costumes e hábitos das culturas que subjugava, tratou de adotar estratégia sagaz. Tal atitude foi a de consentir e assimilar aspectos culturais de alguns povos dominados, promovendo certo sincretismo.
Relembrando:
O Império Romano passou a tolerar o cristianismo a partir de 313 d.C., com o Édito de Milão, assinado durante o império de Constantino I (do Ocidente) e Licínio (do Oriente), no mesmo dia em que ocorreu o casamento de Licínio com Constantia, irmã do imperador da porção oriental do Império. Com este édito, o Cristianismo deixou de ser proibido e passou a ser uma das religiões oficiais do Império.
O Cristianismo tornou-se a única religião oficial do Império sob Teodósio I (379-395 d.C.) e todos os outros cultos foram proibidos. Inicialmente, o imperador detinha o controle da Igreja. A decisão não foi aceita uniformemente por todo o Império; o paganismo ainda tinha um número muito significativo de adeptos. Uma das medidas de Teodósio I para que sua decisão fosse ratificada foi tratar com rigidez aqueles que se opuseram a ela. O massacre de Tessalônica devido a uma rebelião pagã deixa clara esta posição do imperador. Um dos conflitos entre a nova religião do Império e a tradição pagã consistiu na condenação da homossexualidade, uma prática comum na Grécia antes e durante o domínio romano.
Fonte: Wikipédia
Sabiamente os impérios posteriores ao romano, alguns deles ao menos, sabem que pequenas concessões (migalhas para eles) são relevantes para a manutenção de seu poder, contrangendo os abusados os que contestarem.
Dessa forma passamos pelo final da antiguidade, pelo medievo e por diversas revoluções (ideias e avanços tecnológicos), chegando aos dias de nossa miséria humana. A exploração do homem pelo homem, por diversas vezes foram justificadas pelos criadores e divulgadores do simbolismo natalino, em nome de seu salvador, o filho de Deus. É claro que essa não foi e nem é a única forma de dominação, mas como o mote desse relato é a festa máxima do cristianismo, nosso foco não poderia ser diferente.

A criação de um “bom velhinho” distribuindo presentes a todos, ou melhor, aos que foram bons segundo a moral vigente, foi uma maneira também de estimular o consumo e de justificar (tornar natural) algumas das desigualdades sociais pelo mundo.
A figura nada oportuna de Papai Noel (Nicolau, Santa Claus ou qualquer outra alcunha desse criminoso) não agrega nada realmente relevante às crianças da Terra. Sem contar a tese que adoro, mas que é considerada participante de teoria da conspiração, de que tal figura foi remodelada de acordo com os interesses de marketing de certa empresa de refrigerantes. Sem contar que o velhinho mantém anões escravizados, com jornadas desumanas de trabalho, não têm carteira assinada (pois o dono da fábrica de brinquedos vive fora dos acordos da Organização Internacional do Trabalho - OIT), além de utilizar o já precário meio de transporte com tração animal.

Em tempos em que alguns valores preciosos a todos nós começam a ser realidade, mesmo que de forma tímida (bem tímidos ainda!), precisamos lutar para que sejam aprofundados e distribuídos a todos pelo planeta.

Pensemos:

Ao lado de quem e de quais lutas estaria do dono do aniversário?
Será que defendia que recebessemos migalhas ou morreu para que tornassemo-nos protagonistas de nossas próprias histórias?
Cada qual fará sua reflexão e ponderações...
Saudações natalinas!

9 comentários:

  1. Olá, Valter!
    Não sei por que você pensou que eu não gostaria do texto. Estou de acordo com você.
    Bom, deturpar significados é uma especialidade dos seres humanos, principalmente no que diz respeito a algo que ocorreu há tanto tempo e que ainda é celebrado.
    Acho que a "invenção" do Papai Noel e do Natal em que se torna um imperativo o consumo exacerbado como meio de "felicidade" é mais uma adaptação do sistema capitalista a uma data da cultura ocidental. Mas existem outros tantos exemplos dessa capacidade que este sistema tem de se moldar sejá lá para o que for. Olha só, o Che Guevara se tornou uma figura pop, cuja face ficou estampada em camisetas tão comercializadas por aí. O capitalismo se apropriou até dos seus adversários e usa os símbolos do socialismo e do comunismo como souvenirs bem rentáveis. Deste modo, vejo o tal espírito natalino como mais um exemplo disto.
    O Natal é uma celebração cristã que objetiva lembrar do nascimento de Jesus Cristo, ou seja, o próprio filho de Deus. Mas sabemos que até mesmo os católicos confundem o protagonista dessa história. Não é incomum dizer que o Papai Noel é o "cara" do Natal. Também não é incomum que as pessoas considerem a si mesmas como protagonistas da festa, exigindo presentes e deleites que durante o ano todo não podem desfrutar, justamente por terem que estar trabalhando na fábrica do Papai Noel produzindo os "presentes" que terão que comprar no final do ano.
    Acho que, do mesmo modo que existe uma invenção de tradições (ver Eric Hobsbawn) que caminha junto na construção de nacionalismos, de modo a fazer com que as pessoas acreditem que têm uma origem e um destino comum por pertencerem à mesma pátria, o sistema capitalista também é capaz de inventar "tradições" que sejam capazes de sustentá-lo como valor predominante em nossa sociedade. O que dizer do "amigo secreto"? Neste ano participei de um, mas forçado. Na escola onde trabalho, colocaram meu nome sem que eu pedisse. Então, tive que comprar um presente para uma pessoa que mal conheço ou tenho qualquer afinidade. Você não dá o presente para um amigo, você consome por consumir, para seguir uma "tradição" de fim de ano. As empresas dão festas e o funcionário tem que ver na festa da empresa aquele cara que o ferrou durante o ano todo agora fazendo um churrascão pra ele comer. Que espírito natalino!

    Se ao longo da história o significado do Natal foi sendo remodelado de acordo com interesses de imperadores, reis e seja lá quem, hoje em dia, o capital molda e ressignifica esta data também de acordo com aquilo que lhe é conveniente. A publicidade, as empresas, os desenhos animados, filmes natalinos, nós mesmos, todos participamos desta construção e desta deturpação de significados.
    E agora faço uma pergunta: qual é o significado primeiro e verdadeiro do Natal? Acho que a resposta pode nos ajudar a descobrir o que seria o espírito natalino "alternativo" em relação a este que nos é imposto hoje em dia. Sim, pois a ideia de espírito natalino construída hoje já predomina em relação à importância do que houve há 2009 anos, aproximadamente.
    Não dá para fugir do fato de o Natal ser uma data cristã. Sendo cristão ou não, o sujeito que desejar compreender o que é o espírito do Natal em suas origens, terá que entrar em contato com a história do seu verdadeiro protagonista.
    Feliz Natal!

    José Gomes

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  2. Lembro que até certo momento da minha vida eu me sentia incomodado pela minha família não ter alimentado a fantasia de acreditar no Papai Noel na infância.
    Era como se eles tivessem me traído, como se uma parte essencial da infância tivesse sido negada a mim, afinal, a maioria das outras crianças com que convivi passaram pela frustração de descobrir que o Santa não existia.
    Às vezes acho que existe uma ponta de masoquismo nisso, quem sabe?...rs
    Voltando,
    Todos os processos de dominação passaram pela fase de subjugação, aniquiliação (total ou parcial) e sincretismo das culturas.
    E nossa cultura é resultado disso.

    Abraços pós-ceia.

    Vaz

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  3. Cartinha ao Papai Noel

    Prezado Papai Noel:

    Você, na certa, vai achar estranho te escrever hoje, 26 de Dezembro.
    Mas quero falar logo da minha reação ao receber os presentes que você
    deixou na minha árvore ontem, dia de Natal.
    Como você bem deve se recordar, eu tinha pedido uma bicicleta, um trem elétrico, um nintendo e um par de patins.
    Pois bem: Quero lhe informar que durante o ano passado inteiro eu me
    matei de estudar, fui um dos primeiros da turma, tirei 10 em todas as
    matérias.
    Ouso afirmar que ninguém se comportou melhor do que eu, nem com os pais, nem com os irmãos, nem com os vizinhos.
    Tem mais: Cumpri minhas tarefas e obrigações sem cobrar.
    Ajudei velhinhos a atravessar as ruas. Não houve nada que eu não
    fizesse de bom e de gentil com os meus semelhantes.
    Mesmo assim, com uma tremenda cara-de-pau, você, Papai Noel de bosta, me deixou embaixo da árvore a porcaria de um pião, uma porra de uma corneta e uma merda de um par de meias. Seu barrigudo miserável de uma figa! Ou seja, comporto-me como um imbecil de merda o ano inteiro e você me faz uma putaria dessas? E o que é pior, ao filho da vizinha, esse veado sem educação, malcriado e desobediente, que grita com a mãe e chama o pai de corno, para esse anormal você trouxe tudo o que ele pediu.
    Por isso eu estou desejando do fundo de minha alma que aconteça um
    terremoto para irmos todos à puta que nos pariu, já que com um Papai
    Noel incompetente e retardado como você é melhor que a terra nos engula.
    Mas não deixe de vir no Natal do ano que vem, pois pretendo arrebentar a pedradas as putas das tuas renas. Começando por este homossexual do Rudolph que tem nome de bicha enrustida.
    Vou espantar estas renas todas para que você se foda e t enha que
    andar a pé como eu, velho broxa!!
    A bicicleta que eu pedi era para ir à escola, que fica longe pra
    cacete da merda da minha casa!
    Eu não quero nem devo me despedir sem mandar você tomar no cú...
    Espero que quando você estiver no seu trenó, aquela bosta vire com
    você dentro, para que você se arrebente no chão feito um pacote de cocô, gordo e vermelho.
    Isto é um aviso. No ano que vem você vai ficar sabendo o que é um
    garoto mal-educado, doido para se vingar.

    Atenciosamente,

    Osama Bin Laden (12 anos de idade )

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  4. Novamente feliz com os ótimos comentários dos queridos amigos!

    Zé "Boris": Sensacionais argumentos histórico-socióligo-cristãos! Todos nós que tivemos o privilégio de estudar com vc somos fãs de sua aguçada iteligência e o sr bem poderia nos presentear criando e escrevendo um blog. Eric Hobsbawn é sensacional, mas ainda não li o livro que sugeriu, farei assim que consegui-o.

    Vaz: Tá vendo? Seus pais lhe fizeram um bem não apresentando essa farsa natalina de tantos codinomes, típico de um contrabandista! E a dominação é algo prsente em nossa história há tempos.

    Osaminha: Agora entendo sua atitude destruidora contra os "donos" do moderno Noel. Essa nação abalou suas estruturas infanto-juvenis e vc as estruturas financeiro-militares em retribuição.

    Obrigado a todos!

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  5. Erramos:
    Em Zé "Boris":
    * histórico-sociológico-cristãos;
    * inteligência;
    * consegui-lo.

    Em Vaz:
    * presente

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  6. Concordomos com você, companheiro Valter. Iniciaremos, portanto, a operação sequestro do Papai Noel.
    Ass: GRUSAPON - grupo separatista dos anões do Pólo Norte.

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  7. Viva o GRUSAPON!

    Pode deixar que cuidarei das armas e da tática para pegarmos aquele porco capitalista que presenteia os ricos e cospe nos pobres.* (Garotos Podres).

    Adorei a carta do Osaminha, eu sabia que tinha algo no passado dele que causou tudo aquilo. O mais legal é ver os EUA ajudando a família dele, que coisa mais estranha, não?

    Zé, você é phoda. Quero ser igual a você quando crescer.

    Valtão, mais uma vez, parabéns pelas ótimas palavras.

    Viva o GRUSAPON! Diga não à escravização duendina pólo-nortense.

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  8. Valeu, Vaz!
    Viva GRUSAPON!

    José Gomes

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