sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

David, Golias e a plateia de consumidores



O motivo principal para interromper meu silêncio é a tal fusão entre Grupo Pão de Açúcar (Extra Eletro, Ponto Frio) e Casas Bahia. Não sou favorável a nenhuma ordem de acumulação de capital nas mãos de poucos, por isso a preocupação e a vontade de escrever/refletir a esse respeito.

Embora seja “o assunto do dia”, trata-se, por um lado, de criar uma empresa muito grande de capital nacional (se é que isso ainda é possível no mundo!) com melhores condições de competir tanto internamente, quanto externamente. Por outro lado, permitir o aumento da participação do grupo nesse seguimento do varejo.

Nesse negócio, o Grupo Pão de Açúcar se valerá da da Globex para se constituir como acionista majoritário dessa empresa.

A proposta deverá ser comunicada à Secretaria de Acompanhamento Econômico (Seae), do Ministério da Fazenda, e à Secretaria de Direito Econômico (SDE) do Ministério da Justiça. Tais secretarias terão até 30 dias úteis para análise, verificando se resultará em concorrência desleal em relação às demais empresas do setor, elaborando seu parecer sobre o processo e os encaminhado em seguida ao julgamento do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), que elegerá um relator.

Segundo as regras do Cade, o relator terá 60 dias para avaliar e encaminhar o processo a julgamento. Mas esse prazo pode ser zerado pelo próprio relator e começar a contar tudo de novo. Além disso, deve-se levar conta o recesso das festividades natalinas, o qual tem início dia 20/12. Em princípio, o processo só deve dar entrada após 07/01/10, quando o sistema de defesa da concorrência volta a funcionar e seus prazos voltam a correr.

Caso o Cade autorize o “acordo de associação”, o novo gigante do varejo (não que já não fossem grandes concentradores de poder econômico) elevar-se-á à seguinte situação no mercado interno:

Ranking das Empresas

Empresa                                        Faturamento bruto (Em R$ bi)

Petrobras                                                              266,5
Vale                                                                       72,8
Gerdau                                                                   46,7
Pão de Açúcar/Casas Bahia                                      40            
Ambev                                                                    39,7
Eletrobras                                                               32,2
JBS                                                                         31,1
Ultrapar                                                                   29,5
Telemar Norte Leste                                                27,1
Telesp                                                                      23
Fonte: Economatica

Uma singela provocação antes de continuar o assunto: notem que empresas privatizadas no período do ciumento pequeno príncipe (FHC) estão entre as com maior faturamento. Com certeza a “tucanalha” apresentou números subestimados das empresas públicas que queria vender a preço de banana e com nosso dinheiro (via BNDES), no afã de justificar seu projeto neoliberal de Estado Mínimo.

Retomemos em seguida o tema central.

Observe uma das estratégias que o Grupo Pão de Açúcar vem realizando para eliminar seus antigos concorrentes, criando monopólios. Aquisições do grupo Pão de Açúcar:

ANO       EMPRESA

1976       Eletroradiobraz
1978       Peg Pag
1978       Mercantil São José
1978       Superbom
1980       Fórmula G
1997       Mambo
1997       Ipical
1997       Pamplona
1997       Freeway
1998       Barateiro
1998       Milo's Comercial
1998       SAB
1998       G. Aronson
1999       Rede Peralta
2001       Rede ABC
2002       Rede Sé
2003       Casa Sendas
2004       Copercitrus
2007       Rossi Monza
2007      Assai
2009      Ponto Frio
2009      Casas Bahia


Será que realmente a intenção é, como “prega” o receituário (neo)liberal, melhorar as condições de disputa nos cenários nacional e internacional, melhorando também preços e condições para os consumidores finais? Sinceramente duvido. Apenas facilitará a concentração de renda e propriedade nas “mãos de meia dúzia” dos já abastados empresários nacionais, aliados dos capitalistas internacionais.

Ao contrário do que os neoliberais gostariam, esperamos que o Estado brasileiro analise a possível fusão ou seu impedimento, tendo em vista os interesses do povo brasileiro (chamados pelos capitalistas de consumidores, embora sejam diferentes, sociologicamente diferentes) e não por meio das diversas formas de pressão e do tráfico de influência presentes inclusive no Congresso Nacional.

Será a reedição da batalha bíblica entre David e Golias?

Quem será David e quem será Golias nessa história?

E, além do Estado, será que a tal “sociedade civil organizada” irá se posicionar ou se esconderá ou será apenas mero espectador dessa arena romana?

Aguardemos as cenas dos próximos episódios...

4 comentários:

  1. VEJA VC QUE O PAO DE AÇUCAR NEGOCIARA COM SUPERIORIDADE DE CONDIÇÕES COM QUALQUER UM DE SEUS FONECEDORES....

    PARECE QUE TODOS QUE CRITICAM HISTORICAMENTE OS MONOPOLIOS ESTATAIS, NAO SE RESSENTEM DOS MONOPOLIOS PRIVADOS

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  2. Verdade, Rafael... nosso país nasceu privatizado quando a Coroa Portuguesa criou as Capitanias Hereditárias. Esse foi o início das privatizações em nossa história, através da terceirização e cobrança de impostos.

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  3. Não esqueça que o Abilio vendeu 50 % do capital da CBD, controladora do Pão, para o grupo francês Casino. Portanto, o Pão nem é tão brasileiro assim......

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  4. Verdade Rodrigo... muito bem lembrado... e esse que foi o ano da França no Brasil... rs

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