quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Carta a Robin Williams

Dear Mr. Robin Williams


Venho por meio desta, mui respeitosamente, agradecer o fato de nos lembrar dos nossos defeitos de país subdesenvolvido e manifestar essa reparação pela repercussão negativa cá em nossa pátria.

Sabemos de sua história tão tocante em Hollywood, acompanhamos seus filmes, seu talento nato para a sétima arte e seu magnânimo Oscar como ator coadjuvante pela brilhante atuação no filme “Gênio Indomável”. Trata-se de um grande ator nascido em Illinois, Chicago (EUA).

Somente um país em processo civilizatório incompleto, como é o nosso, poderia se indignar com suas críticas tão afáveis e construtivas. Escusas pelo desagradável fato, Mr. Williams!

Relatemos: esse importante ator estadunidense, em entrevista a David Letterman, aquele mesmo que o programa de Jô Soares imita, disse que o Rio de Janeiro receberá as Olimpíadas de 2016 por termos seduzido os integrantes do Comitê Olímpico Internacional (COI) com 50 strippers e meio quilo de pó, enquanto sua terra natal enviou Oprah Winfrey (apresentadora de programa na TV) e a primeira-dama Michelle Obama, classificando a disputa injusta e desigual.

Não se esqueça de que “Narciso acha feio o que não é espelho” e, apesar de tanto atraso e desapego aos valores nacionais (não pertencimento!), em Copas do Mundo, Olimpíadas e nas ofensas, unimo-nos para tentar resgatar nosso orgulho periférico.

Destratar tão nobre artista, tão nobre e respeitosa cultura, como é de nossos queridos amigos do norte da América, é algo minimamente deselegante e passo a tentar aqui, sem deter procuração popular, retratar-nos.

Justamente nossos “brothers” do norte que proferem discursos e promovem a paz entre nações por meio de sua sábia imposição dos valores democráticos, não deveriam ter essa paga por seu labor.

Além de realizarem tais obras de suma importância, mesmo que não tenhamos consciência disso, não nos deixam sem o devido registro cinematográfico para a posteridade e educação de nossos povos pouco educados.

Exemplificar suas contribuições para a Humanidade fará com que me esqueça de muitas situações, contudo arrisco-me para homenageá-los, com a ressalva de que sabemos que são humildes o suficiente para repartirem sua estupenda atuação com seus aliados (outras nações ou com nossas burguesias nacionais).

Vamos a algumas contribuições desse amável país: segregação racial (Ku Klux Klan), intervenção e formação da ilha de Cuba em seu bordel particular (antes de Fidel), fomentar guerras pela democracia por todo o planeta (Iraque, Afeganistão, por exemplo), sua luta contra o terrorismo e contra os inimigos da democracia liberal, a criação/manutenção (em seus contextos) dos gêmeos Coreia (norte e sul), Alemanha (Ocidental e Oriental), Vietnã (Sul e Norte), intervenção na Colômbia, invasões territoriais para nosso bem, espionagem e rapinagem de territórios dos países nos quais promoveu “guerras civilizatórias” para seu próprio bem e de toda a Humanidade, entre outras tantas.

Não poderia esquecer sua ação no Oriente Médio (terra dos petro-dólares), especialmente na questão palestina. Também não seria honesto esquecermos dos heróis desbravadores do Oeste de seu país, que não enfraqueceram diante das dificuldades, devastaram florestas e exterminaram povos indígenas em nome do progresso e do desenvolvimento.

Não podemos negar que estiveram presentes na vida de nosso país e de nossos vizinhos em períodos críticos, tal como durante o regime militar. Nesse período, seu país, num esforço em nos auxiliar e manter a ordem, apoiou os golpes militares em nosso continente com subsídios “em espécie”, colaborando militarmente, ensinando-nos técnicas avançadas (tortura) para obtermos informações dos agentes subversivos (qualquer suspeito).

Fora sua importante revolução em termos da ampla divulgação e distribuição dos alimentos processados e menos rústicos, tais como: nossos preferidos fast food’s inovadores e shakes para não desperdiçarmos nossos preciosos tempos de produção com tão arcaicos costumes, como boa alimentação e tempo com a família.

Tentamos imitá-los até os dias atuais, mas precisamos reconhecer nosso amadorismo tupiniquim. Nem seu patri(di)otismo soubemos assimilar. Que sabe um dia!?

Mesmo sabendo que temos tantas outras necessidades bem mais urgentes a resolver, tendo como maior exemplo o resgate da imensa dívida social, além da mais que imprescindível precisão em investimentos estruturais e em saneamento básico, além de construir um sentimento de pertencimento, fundando assim, finalmente, o povo brasileiro e a nação, entendendo que nunca tivemos Olimpíadas e nada mudava. Não será o fato de realizarmos ou não esses jogos que nossa história mudará. Certo amigo?

Como forma de nos redimir dessa indelicadeza contumaz, utilizo a fruta símbolo de nossa República para apaziguar os ânimos e para que possamos nos reconciliar. Sei que sua cultura não gosta de consumir tais produtos “in natura”, mesmo se tratando de alimento com casca fácil de tirar e de diversas modalidades, tais como a banana-maçã, banana-da-terra e a nanica. Caso não queira sujar suas mãos civilizadas para consumir fruto tão importante na história deste país e de seu PIB, grande parte de nossa população sentir-se-á honrada em ajudá-lo a consumi-la via anal!

Com afeto,

Apenas um latino-americano stripper.


Yes, nós temos bananas!

9 comentários:

  1. Pois é Valter, infelicidade não se encaixa nessa situação para falarmos de tão renomado ator e representante do magnânimo Primeiro Mundo. Sugiro contudo Valter, sua dedicação num próximo texto com espaço aberto aos vossos leitores, para uma deliciosa empreitada, quase um jogo sem fim, que será juntos enumerarmos as tão valiosas "contribuições desse amável país" ao nosso (nosso?) Brasil (Brazil?).

    Paulo Patch Adams.

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  2. Valter,

    Certamente foi uma piada infeliz, mas os humoristas (atores e simpatizantes) sofrem dessa maldição: A PIADA SEM GRAÇA.

    Um dia, o senso de humor outrora afiado, deixa escapar uma estupidez...

    Proponho que utilizemos este exemplo para pensar sobre um segundo ponto de vista: nós brasileiros, ao contrário do que dizem por aí, não temos um senso de humor tão afiado assim. Prova disso é que não conseguimos rir de nós mesmos e de nossos defeitos. Nas piadas sobre nacionalidade sempre somos os mais espertos, os mais "malandros" e quem sofre são os argentinos, os japoneses (coitados, batalharam tanto aqui nessa terra) e os portugueses, claro.

    Quando a piada é nossa não importa o quão afiada ela seja. Rimos de nossa própria desgraça, rimos de nossa condição subjugada, mas tudo bem, porque somos MALANDROS, alegres e não nos importamos com as coisas sérias da vida, não é mesmo?

    Eu espero que um dia esse esteriótipo do Brasil (mulheres, drogas, sambas e futebol) fique em nossas memórias só como uma velha piada mesmo.

    Ps: a carta está ótima =D

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  3. Escreveu sobre, não? Hehehehe

    Bom, acho que antes de julgarmos uma piada tão realista, sim, nós temos essa fama pelo mundo porque não fazemos NADA para mudar...
    Os governantes: roubar e rir é fácil , O povo: continuar sendo "malandro" e rindo "das próprias desgraças"... E assim o país continua caminhando....

    E quando POUCOS tentam fazer algo, como o movimento estudantil de Brasília, são chutados como marginais... E o povo faz oo que? Continua... Deixa o governo colocar DINHEIRO PÚBLICO na meia, no terno, na camisa, nos bolsos, enfim, no **!

    Bom, levemos tudo como piada, porque nada mudará mesmo né? (Acho que esse é o lema de todos os brasileiros, ou quase todos)....

    Mas, abra os olhos! Só nós podemos fazer piadas de nós mesmos! Se vier um ator conceituado drogado lá de fora, ficaremos putos como se tivéssemos razão, e se como tivéssemos a dignidade de sentirmos raiva pela desgraça do nosso país!!!

    Beijão!

    Aline.

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  4. Fala sério, há um tico de verdade na piada do ator. XD
    Agora brincadeiras à parte, ainda que não foram drogas e mulheres em particular que motivaram a escolha do Rio, foram as recentes empreitadas brasileiras em relação a petroleo, empréstimo a FMI, o cenário em si que o Brasil hoje ocupa no meio internacional, afinal este é o país que se divulgou como aquele que não sofreu a recente crise (crise, por acaso, um tanto meramente psicológica). Ou seja outro tipo de droga motivou a escolha: um stalinista ortodoxo cristão diria a "droga capital" :P

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  5. Caro amigo Valter.

    Incrível o que você escreveu.
    Essa história me fez lembrar um episódio da minha infância:
    Cresci em um bairro da periferia de SP, local onde tive a deliciosa oportunidade de brincar na rua. Meninos de várias ruas se juntavam para jogar futebol no asfalto, o que normalmente resultava em um tampão arrancado do joelho ou do dedão do pé.
    O mais interessante disso tudo era o fato de, entre aproximadamente 20 crianças, somente um tinha uma "bola de capotão" para jogar.
    É claro que o dono da bola sempre participava dos jogos, afinal, ele era o Dono da Bola!
    No momento do ludopédio, o dono da bola se tornava um rei. Com esse poder em mãos ele falava e fazia o que quisesse, pois se não fosse assim, ele pegava sua bola e ia embora, deixando a molecada desolada por não praticar o esporte nacional.
    Desta forma, muitos meninos aceitavam essa condição de "cabisbaixismo" e se humilhavam diante de tais manifestações. Enquanto os outros que se rebelavam contra aquilo eram tidos como burros, afinal, ele era o Dono da Bola!
    Quem se indignava diante daquela situação, chegava ao ponto de não jogar bola. Como pode isso? Como eram ignóbios. Falar que não gostavam da atitude do Dono da Bola! era afrontar a maior manifestação de poder da rua, embora não me esqueça dos moleques da rua de trás! que roubavam nossas latas de linhas com simples gestos de coação moral e física, enquanto os adultos diziam que se ignorássemos isso, logo eles parariam. Mas isso é outro fato que comentaremos nas próximas postagens.
    Opa! Que estranho. O Dono da Bola! normalmente estava com os moleques da rua de trás!, contudo, às vezes, os moleques de rua de trás! davam uns croques no Dono da Bola!, mas isso se resolvia em pouco tempo, bastavam algumas Tubaínas no bar do Guila que a amizade logo se reerguia.
    Voltando ao momento lúdico.
    Um dia, um dos moleques ganhou uma bola de presente de Aniversário, Natal e Dia das Crianças, porque se não fossem as 3 datas acumuladas, provavelmente a bola de capotão não estaria em suas mãos.
    Que maravilha! Podíamos jogar bola em paz, pois o antigo Dono da Bola! não tinha mais poder sobre a gente, éramos livres para fazer o que quiséssemos com aquela bola, inclusive, nada.
    O mais estranho era que alguns moleques continuavam seu "cabisbaixismo" para com o Dono da Bola! e um dia eu descobri a verdade: O Dono da Bola! dizia que a redonda de capotão dele era melhor que a dos outros.

    Bem, novamente mais um devaneio psicotraumático masculino, mas que tenho certeza que poderemos aplicar nos diversos níveis das relações sociais.

    Valtão, eu sou seu maior ídolo...hehehehe.
    Um dia quero escrever como você.

    Abraços.

    Vaz Folder

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  6. Feliz com os ótimos comentários!
    Paulo: Gostei do comentário, sobre tudo da brincadeira do Brasil/Brazil.

    Priscilla: Você tem razão quanto a nossa intolerância em relação aos outros que nos fazem de piada, mas é compreensível quando pensamos que somos constantemente achincalhados por todos.

    Aline: O tom de pessimismo e equívoco na condução de nossos destinos, seja na esfera governamental ou nas atitudes dos filhos da pátria(ou na falta delas), alastram nossas imperfeições ainda por mais algum tempo. A história nos ajudará a mudar?

    Vaz Folder: O nobre amigo é cronista sem igual e acertou na analogia, pois os estadunidenses são os tais donos da bola... ótimo seu comentário e é você quem merece elogios.

    Anônimo: Suspeito quem seja, mas não tema... não vou pegá-lo na porrada depois da aula(rs). Sinta-se à vontade para mostrar sua identidade rebelde! O Brasil foi um dos países que se saiu melhor dessa crise.

    Agradeço a todos e todas pela generosidade em ler e comentar!

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  7. Ah sim... agradeço a querida amiga Leandra Niciolli Trindade pela revisão dos últimos textos e pela edificante amizade!
    Beijo!

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  8. Yes, nós temos banana, banana prá dar e vender, banana menina, tem vitamina, engorda e faz crescer ...
    Ótima prescrição, quem sabe eles engordam sem se entupirem de ovos, bacon, frango frito, costeleta de porco e cachorro quente, já que este povo "tão" evoluido não se importa com o entra, então:
    Que sejam em pencas o que irá via anal.
    Como sempre vc acertando em suas colocações.
    Abraços

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