Vai Passar
Chico BuarqueComposição: Chico Buarque e Francis Hime
Vai passar nessa avenida um samba popularCada paralelepípedo da velha cidade essa noite vai se arrepiarAo lembrar que aqui passaram sambas imortaisQue aqui sangraram pelos nossos pésQue aqui sambaram nossos ancestraisNum tempo página infeliz da nossa história,passagem desbotada na memóriaDas nossas novas geraçõesDormia a nossa pátria mãe tão distraídasem perceber que era subtraídaEm tenebrosas transaçõesSeus filhos erravam cegos pelo continente,levavam pedras feito penitentesErguendo estranhas catedraisE um dia, afinal, tinham o direito a uma alegria fugazUma ofegante epidemia que se chamava carnaval,o carnaval, o carnavalVai passar, palmas pra ala dos barões famintosO bloco dos napoleões retintose os pigmeus do boulevardMeu Deus, vem olhar, vem ver de perto uma cidade a cantarA evolução da liberdade até o dia clarearAi que vida boa, ô lerê,ai que vida boa, ô laráO estandarte do sanatório geral vai passarAi que vida boa, ô lerê,ai que vida boa, ô laráO estandarte do sanatório geral... vai passar
Não importa a versão histórica de nossa preferência, o relevante nessa festa chamada Carnaval, marca brasileiríssima tanto quanto o futebol, mesmo suas origens sendo ligadas ao velho mundo. A tal festa da despedida da carne e pela purificação de nossas almas fustigadas impressiona pela exuberância, pelo inusitado e pelo consumismo cultural que representa nos dias atuais.
Há controvérsias sobre a origem dessa festa, passando desde os primórdios da cultura ocidental lá na Grécia clássica, tendo outra versão remontando aos “gloriosos” dias do Império Romano ou, ainda, ao período do medievo na Europa das sombras e sob a tutela dos “Papas de Deus”. Mas, enfim, o que nos importa é saber o quanto de festa popular e de cultura de massas tem essa festa da carne.
A formação em sociologia e a militância política me deixam em uma verdadeira “sinuca de bico”, pois trata-se (ou se tratava) de evento pertencente ao folclore de nosso país e de outras localidades também, é verdade. Seja na “cidade luz” das máscaras, nas tradições sem samba em New Orleans, em recantos orientais ou nas diversas expressões carnalavescas de Pernambuco, Bahia, Rio de Janeiro, Minas Gerais, São Paulo ou na região amazônica, a população se esbalda nessa festa durante o período permitido pelas autoridades eclesiásticas, governamentais e pelos patrões.
Nunca fui grande entusiasta dessa festa, somente participei voluntariamente em tenra idade nos carnavais de rua no bairro da Lapa (desfiles na Rua Doze de Outubro) e em algumas matinês no SESI-Leopoldina, nada além disso. Bem, na verdade, estive no Anhembi há anos atrás e em ensaios de uma escola de samba da zona norte, mas puramente para agradar a dona do meu coração à época. Constatei que a bateria de uma escola de samba é algo sobrenatural, tendo vivido emoção sonora parecida somente quando ouvi os motores de um Fórmula 1 em Interlagos.
Os incômodos desse velho estão na comercialização do carnaval e seus agregados, na ditadura do samba enredo e dos desfiles durante esses dias. Não posso me esquecer da hipocrisia permissiva que representa essa data, além da suposta realeza apresentada nessa festa.
Não pertenço e nem pretendo pertencer a qualquer tipo de corte, até por não acreditar nesse tipo de sociedade e ser feliz por estar livre desse tipo de julgo (ao menos supostamente! rs). Assim como Pelé, Roberto Carlos e Xuxa não serem por mim considerados de qualquer realeza.
Os meios de comunicação, controlados por nosso Big Boss capitalista, adora esse tipo de alienação por poder manipular alegremente e impor a todos a obrigação da felicidade em forma de consumo e abuso. Comércio sofisticado e rasteiro no mesmo produto!
Por final, a Santa Amada Igreja, do alto de sua magnificência inquisidora, permiti-nos abusos para que possam vender o perdão em prestações. Quer pagar quanto? Ou os irmãos mais novos da Santa Inquisição, sejam pentecostais ou não, condenam a festa como algo criado pelo demônio, comportamento comum a seus pastores, bispos e apóstolos, emaranhados na gula, na avareza, na inveja, na ira, na soberba, na luxúria e na preguiça.
Para evitar um fim tão triste quanto o de Policarpo Quaresma, prefiro valorizar as questões culturais de todos os povos, todavia raciocinando sobre os valores, costumes e interesses impregnados nessas formas de expressão humana, não participando de um consenso automático, burro e imposto pelos poderosos da economia mundial.
Qual a saída? Vc só aponta erros...
ResponderExcluirNão vale...! Rs... Acho que é bacana assinar, Anônimo(a). Bem, é só minha opinião...
ResponderExcluirEntão Valter, mas qdo achei que vc iria concluir finalizando a argumentação... Não sei, faltou algo. Entendi a ideia do exagero, do controle, dos valores, mas esperava que o texto fosse um pouco mais além.
Bjs..
Nacha.
Obs: Está difícil para eu ler e escrever, no momento, pois quebrei meus óculos hj, durante a consulta no oftalmologista!!!
Olha eu aqui... hehehe Passando para ler e reler... hehehe
ResponderExcluirBeijos - Aline!
Aos Car@s Amig@s:
ResponderExcluirAnônimo:Qual a saída? Só aponto erros? É possível, mas aprendi com a Filosofia que saber fazer as perguntas é o primeiro e fundamental passo para as melhores "respostas" e... carinhosamente: Quer algo pronto? Compre em algum fast food!
Nacha: Vc tem razão, mas não somente o texto talvez necessite de um melhor desfecho, mas a vida também! rs
Aline: Olha a Aline aí, gente! rs
Abraço a todas e todos.
Continuo no anonimato. Pois é Valter, o comentário sobre o desfecho do texto revela o seu posicionamento diante da vida, que muitas vezes cai no negativo. Tudo parece opressão, manobras do poder em prejuízo ao povo e por aí vai. Não que isso não aconteça, mas ficar o TEMPO TODO em uma defensiva meio paranóica e retórica cansa e não tem levado a lugar algum. Carinhosamente (mesmo): que tal agir? Reverta o jogo! Abçs.
ResponderExcluirAnônimo(a)
ResponderExcluirApesar de nutrir respeito pelo(a) amigo(a), também acho que, assim como imagina que o desfecho do texto indica meu posicionamento "negativo" diante da vida, tb indica que me posiciono diante dela e, através de meu trabalho na área de educação, busco contribuir para transformá-la. Gostaria de pegar em armas e promover uma Revolução, mas há esse contexto?
Diante disso, sinto-me a vontade para indagar-lhe:
E vc?
O que tem feito além de criticar quem "reclama" e, segundo seu julgamento, só fica na paranóia e na retórica?
Apóia o status quo?
Tá satisfeito(a) com o mundo em que vive?
Caso não esteja satisfeito(a), propõe algo para mudar?
Creio que canse mais viver a opressão e as desigualdades sociais do que ouvir minhas reclamações.
Agradeço por escrever e dialogar, mas gostaria de saber com quem tenho a satisfação de fazê-lo.
Abraço.
Eu apoio o status quo, sim, não tenho o menor problema em dizer isso. Acho que devemos ter posicionamentos claros e lúcidos diante da realidade. Se viver na opressão é ruim, use o sistema para os seus interesses ao invés de viver em um universo paralelo formado por pessoas e atitudes de 50 anos atrás. A não ser que reclamar seja uma delícia masoquista, o que eu duvido muito. Che Guevara já foi... hoje, ele só serve pra estampar camisetas e fazer sonhar com um passado que nunca existiu.
ResponderExcluirUma sugestão: escreva sobre coisas boas! Legais! Divertidas! Alto astral! Você consegue :)
Bem... sei lá quem...
ResponderExcluirEntendo que para fazer sua felicidade, talvez vc devesse deixar de ler o que escrevo, já que não lhe apraz...
Não acho que ideologia tenha prazo de validade e nem que viva em um universo paralelo. Acho que quem vive assim são pessoas, assim como vc, que deixam-se ser enganadas pelos meios de comunicação, propagandas, novelas etc e que vibram comprando o carnê do baú ou bilhetes da Mega Sena, sonhando com um mundo de valores de consumo.
Então... fique "muretando" em sua condição de anonimato.
Quer algo alegre? Ouça Jovem Guarda, Rebolation ou genéricos.
Uma diferença é que não quero usar sistema pro meu proveito, o mundo não é o meu umbigo. Mas nem pense nisso, pois poderia ter que sair de seu mundinho "feliz" para ver e viver nossa realidade desigual.
Bom... se é uma escolha, beleza. Só não dá pra viver reclamando da "burguesia fedida" que tem bom salário à custa de muito esforço, gosta de bons restaurantes, boas roupas e tudo de boa qualidade (atenção: escrevi BOA, ou seja, não tô falando de coisas ínacessíveis como uma limusine). Ter uma boa conta bancária não é defeito! É possível conseguir um bom emprego sem se vender ao monstro (buuuhhhh!!!!) do capitalismo. É isso que me dá nos nervos, entende? Você parece achar que eu sou pró-corrupção e pró-bandidagem e que defendo o Gilmar Mendes e o topo da pirâmide social a todo custo. Não. Eu só penso que quero estar lá um dia e, se as pessoas reclamam por falta de grana e visibilidade, que se façam ser vistas! Ação, e não discurso de coitadinho! Isso você vai ter de admitir que é o que mais acontece por aí.
ResponderExcluirOutra coisa: tem gente muito boa e honesta trabalhando na grande mídia, sim. Inclusive como donos de jornal. Acho que seria muito positivo deixar um pouco de lado a posição defensiva e mega clichê ao falar no monstro (buuuhhh!!!!) da MÍDIA (nossa, até me arrepiei só de escrever essa palavra). Se ela é o problema, também pode ser a solução. Pense nisso :)
E lá vou eu ouvir um pouco de Rebolation... hahaha! Abraços, na boa!
Não se trata de discurso de coitadinho, pois quem trabalha e pega condução lotada e ainda tem disposição pro "pão e circo' é o povo.
ResponderExcluirTodos queremos e trabalhamos pra merecer do bom e do melhor, mas na lógica alienante capitalista teríamos há a necessidade de mais 5 planetas Terra para acalmar nossa vontade consumista.
Mudar o foco do indivíduo pro coletivo e pra sustentabilidade é urgente.
Sei que existe gente boa e honesta na mídia , mas na grande mídia e, principalmente os donos dos meios de comunicação, não deve haver. Solução não é a mídia (que é meio), mas mudança de valores nela e na sociedade.
Aponta meus supostos clichês, mas promove a verborragia dos clichês da classe média idiota e da elite que aposta em nossa ignorância.
Se vc diz defender o status quo, não me tem a seu lado, pq é ele quem deseja que continuemos analfabetos funcionais, vivendo na beira de morros e córregos ou, no caso da classe média dos valores materiais, protegendo-se da vida atrás de muros, grades, condomínios fechados e no anonimato.
Não fique bravo... eu não estou tentando convencer ninguém a adotar meu ponto de vista, e, além disso, o blog é seu. Mas insisto na questão da mídia. Não tenha visões pré-concebidas. Se quer mudança de valores, isso passa, necessariamente, pelos meios de comunicação. E seus donos!
ResponderExcluirReparou como você leva tudo a ferro e fogo? Eu falo de um padrão de vida confortável e você já rebate com consumismo e gente morando em palafitas, como se devêssemos nos sentir culpados por beber Coca-cola. Calma. Eu sei que isso existe, que é triste, revoltante e tudo mais. Mas como essas coisas vão acabar? Aí que entra aquilo que eu disse (e que você não entendeu) sobre USAR O SISTEMA. Exemplo: uma multinacional apoia uma comunidade ribeirinha. Ela coloca outdoors com sua logomarca diante de casinhas recém-construídas, faz um escarcéu danado pra divulgar que se preocupa com questões sociais, ambientais, educacionais e seja lá o que for. Tá cheio de empresas buscando marketing social. E aí, elas são monstros? Querem divulgar sua marca, é óbvio, mas as ações que realizam não deixam de ser importantes só porque sua matriz fica nos Estados Unidos. Se fazem algo de relevante ao país e que não é feito pelo atual Governo petista, o que importa? Criancinhas paquistanesas fabricam tênis da Nike recebendo centavos por semana. Uma merda, mas as pessoas não deixam de consumir seus produtos. Não é "justo", então, fazer a Nike ter projetos sociais ao invés de simplesmente rejeitar seus tênis e camisetas? Para ter resultados, é preciso falar a língua daqueles que têm dinheiro e poder. Não tem jeito.
Sobre o status quo, minha casa tem grades e eu não dou moedas pra meninos de rua. Voto em pessoas que buscam um mundo justo, mas, enquanto isso não acontece, eu me protejo como dá.
Não vou escrever mais nada... o anonimato parece te irritar, e não quero ver a censura sendo apoiada por aqui. Vai que você segue o exemplo do Chávez? Um abraço!!!
Ninguém convence ninguém através de blog mesmo, isso depende de convicções e de modos de ver e viver a vida.
ResponderExcluirMas legal a oportunidade de diálogo, mas fico puto com individualistas do anonimato, sim.
Seu discurso naturaliza desigualdades que são sociais, econômica e culturais, isso é estelionato da história.
Acreditar que empresas e seu "marketing social" vão "amenizar" o problema é querer promover o auto-engano... apenas limpam a consciência cristã (de seus consumidores, só pode ser!)através de esmolas.
Tome sua Coca-cola (tb bebo às vezes) e compre seu Nike tranquilo, ao contrário do que afirma, não pretendo te censurar, só não vejo necessidade de debatermos tendo em vista que não construiremos nada a partir desse colóquio.
Aliás, foi o Rei Juan Carlos de Espanha quem disse a Hugo Chávez: "Por que não se cala?"
Mas não defendo tal caudilho, mas tb não defendo a censura econômica dos poderosos do planeta azul.
O carnaval é uma festa sem importância para mim. A não ser pela tradição e a cultura das escolas de samba e o próprio samba em si. Mas hoje em dia o samba de avenida anda capenga e as escolas são fábricas de dinheiro e corrupção. Sem falar no carnaval da Bahia que é uma coisa animalesca.
ResponderExcluirMas o que me leva a postar esse comentário é outro motivo: a Igreja.
O senhor tem mania de perseguir essa instituição. Sempre com os velhos chavões: Inquisitora, maligna, perversa, mercadora das absolvições, grande opressora da humanidade, etc. Sempre a mesma surrada história. A Igreja é a grande Geni da humanidade! Culpa de quem? Dela mesma, do Vaticano II, do Betto e do Boff, mas isso é uma outra conversa.
Para finalizar: Os protestantes são seus irmãos? Registro que meus não são!
censura no blog agora?
ResponderExcluirAmigos:
ResponderExcluirTive problemas com meu blog (e não entendo pq), pois os comentários não estavam sendo publicados... em outro post já comentei sobre isso, mas, enfim, peço desculpas pelo transtorno.
Rodrigo: não vou discutir com vc sobre sua amada Igreja, mas respondo que ameríndios, aborígenes, muçulmanos, católicos, judeus, protestantes, espíritas, ateus, todos são meus irmãos!
Nunca se esqueça da lição do Mestre: Fora da caridade não há salvação. Ele nunca disse que fora da Igreja Católica não haveria. Abandone logo esse seu etnocentrismo medieval!
Abraço pro irmão Rodrigo!