sábado, 28 de novembro de 2009

Sobre o vazio e o nada


“Qual é o sentido da vida?

- Mas faça isso logo, tenho um importante encontro em meia hora”


Vazio – adj. 1. Que não contém nada; vácuo, vão. 2. Despovoado, desabitado. 3. Fig. Frívolo, vão. 4. Fig. Falto de inteligência. 5. Fig. Falto, destituído. * sm. Espaço não ocupado por coisa alguma.


Nada – pron.indef. 1. Nenhuma coisa. * adv. 2. De modo nenhum. *sm. 3. A não existência. 4. V. ninharia.

Fonte: míni Aurélio – 6º edição, Ed.Positivo

Não gosto de iniciar uma “conversa” me desculpando... mas devo aos caros amigos alguma satisfação sobre meu desaparecimento... aviso a todos que não estive no Uruguai com Belchior! rs

Além dos afazeres de minha prática e registros pedagógicos, estive ausente nesse espaço em função da necessidade reflexiva, tarefa a qual todo ser humano necessita se dedicar por diversas vezes (talvez com as digníssimas exceções de Carla Peres, Luciana Gimenez e demais membros dessa seleta confraria).

Calei-me sobre o desempenho decepcionante de meu amado Palestra Itália, a morte de Celso Pitta, as trapalhadas tucanas no Rodoanel, o dia da Consciência Negra, entre outros eventos relevantes. E, como já me calei, permanecerei assim acerca deles.

Aos bondosos amigos que tanto me incentivam a continuar a escrever insanidades nesse espaço virtual, agradeço o carinho e o compromisso e brevemente voltarei a minha forma cínica e rebelde e registrarei aqui meus devaneios, como fiz até o momento.

Além do trabalho ligado a educação, o que me consome são dúvidas existenciais, amorosas, profissionais e sociais. E ainda estou no processo de desvinculação da minha antiga posição em relação ao cristianismo.

Enfim, o tempo e a sanidade não têm sido meus aliados nesses últimos dias e, além disso, o período de final de ano colabora para esse clima melancólico.

Em função disso, passei a pensar sobre o nada e o vazio, mesmo tendo convicção de que minha inteligência mediana não alcança a transcendência de tais conceitos. Por isso recorri ao generoso “pai dos burros” para que me socorra com seus conceitos hermeticamente fechados!

Tão logo recupere minha sanidade, retorno a minha Ágora particular e virtual.

Saudações a todos e todas!

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

A tristeza de mais um Jeca


Vide vida marvada

Renato Teixeira
Composição: Rolando Boldrin

Corre um boato aqui donde eu moro
Que as mágoa que eu choro são mal ponteadas
Que no capim mascado do meu boi
A baba sempre foi santa e purificada
Diz que eu rumino desde menininho
Fraco e mirradinho a ração da estrada
Vou mastigando o mundo e ruminando
E assim vou tocando essa vida marvada

É que a viola fala alto no meu peito humano
E toda moda é um remédio pros meus desenganos
É que a viola fala alto no meu peito, mano
E toda mágoa é um mistério fora desse plano
Pra todo aquele que só fala que eu não sei viver
Chega lá em casa pruma visitinha
Que no verso e no reverso da vida inteirinha
Há de encontrar-me no cateretê

Tem um ditado dito como certo
Que cavalo esperto não espanta a boiada
E quem refuga o mundo resmungando
Passará berrando essa vida marvada
Cumpadi meu que inveieceu cantando
Diz que ruminando dá pra ser feliz
Por isso eu vagueio ponteando
E assim procurando minha flor-de-liz
É com a singela e bela música do cancioneiro popular que dou início ao meu lamento...


Escrever sobre a tristeza de um torcedor seria injusto diante das agruras do mundo, contudo “para o brasileiro o futebol é, dentre as coisas menos importantes, a mais importante” (não sei de quem é a ótima análise) e por isso utilizo esse espaço para tal tarefa.

Apenas pretendo demonstrar mais esse descontentamento e quem me conhece e porventura estiver aqui lendo, talvez entenda o porquê de meus sentimentos. Talvez! Também não quero ser entendido e nem tampouco consolado.

A ideia aqui não é esclarecer, mas confundir. Ninguém recebe de fato tudo pronto e acabado e o final não é e nem será feliz.

A ética de nossos tempos admite uma série de injustiças, protegida pela moral darwiniana, pela liberal ou, ainda, pela moral “judaico-cristã-ocidental”, todas representando o mesmo repertório cultural. Não posso esquecer das injustiças alimentadas pela porção oriental.

Não que nunca tenha jogado esse jogo, mas todos que enxergam um pouco à frente, cansam-se dessa horrenda realidade e, alguns, revolvem se mexer para lutar por mudanças, outros desistem à beira do caminho.

Misture juízes ladrões, falta de vontade, “corpo mole”, congressistas corruptos, coronelismo, clientelismo, alienação, passividade e uma porção de pessoas adotando a tática do “jeitinho brasileiro”, que, aliás, não é nossa exclusividade, embora queiram nos empurrar goela abaixo.

Nesse momento em que já ultrapassei minha terceira década de existência no planeta, encontro-me com menos esperança e me reconheço mais próximo das figuras de Jeca Tatu e Macunaíma... quase um anti-herói!

Entrego a todos meu sincero cinismo e minha rebeldia!

O mundo criou e recebe nesse momento mais um ateu, agnóstico, iletrado, insurrecionado em suas terras.

Viva o Caos!

Agora, resta-me aguardar o derretimento das "calotas polares" e aproveitar as futuras praias paulistanas.

Encerro aqui esse desabafo... apesar de toda desesperança, continuarei resistindo!

sábado, 14 de novembro de 2009

O que se passa debaixo dos caracóis de seus cabelos, Caetano?




Não gostaria de novamente ser pautado pela imprensa liberal, mas não resisti em fazê-lo por envolver sentimentos artísticos e políticos. Tratarei aqui, com muito pesar, sobre a tristeza de uma opinião obediente. Vamos a mais essa polêmica.

Caetano Veloso, ao ser entrevistado pelo “diário oficial do conservadorismo” (Estadão), em período de divulgação da volta de seu show a São Paulo, aproveitou para declarar sua intenção de voto e tentar atrair as atenções para seu próprio umbigo.

Gostaria de pontuar uma questão aqui, apesar do meu nítido e declarado “analfabetismo cultural”. Tal ponto é o fato de que parcela dos artistas sentem a necessidade de estar sempre em evidência e influenciar ou arrancar suspiros de suas tietes, inclusive através de suas “privilegiadas e autênticas” visões de mundo.

Ao mesmo tempo em que ele zomba do presidente da República (o chamando de analfabeto, grosseiro e cafona) pela sua formação e origem populares, origem estranha a Caetano, ele perde a mão nas críticas. Acredito que, mesmo àqueles que não são seus fãs, nunca imaginaram tal ícone do Tropicalismo destilando preconceitos.

Ele prossegue sua postura esnobe e pedante ao citar que leu matérias na revista “The Economist” e o jornal “The New York Times” sobre como o país é percebido pelo mundo ocidental e ao esperar para o país um “governante ideal” como alguém que seja a mistura de Obama e Lula, sendo Marina Silva a representação dessa sua vontade.

Não vejo problema algum no fato de ele expressar sua opinião, inclusive declarando sua intenção de voto, acho isso importante, principalmente em um país onde grande parcela prefere mensagens subliminares ou expressá-las através de matérias opinativas disfarçadas de verdade dos fatos. Contudo essa visão de “brazilianista” que apresenta é que é lamentável.

Por ser liberal declarado, não gosta de muitas interferências do Estado na vida das pessoas, embora a história mostre que isso tem sido fundamental ao desenvolvimento humano. Parece menosprezar também a política e acaba por encarar o Estado como algo que concentra poderes, o que qualifica como algo ruim.

Ele, que parece se orgulhar de seu repertório cultural e erudito, poderia reler Michel Foucault e entender que o poder encontra-se impregnado em todas as relações humanas, não estando restrito ao Estado.

Seu discurso preconceituoso, em espaço aberto pelo santuário da mediocridade paulistana, exerce poder e forma opinião de certa forma. Isso não é poder???

Com certeza, caso fosse de seu agrado, sua opinião e sua ação teriam contribuído muito para escancarar e criticar as estruturas de poder da família Magalhães, denunciando e combatendo o coronelismo em seu estado. O que não o faz com veemência, aliás até nutrindo certa simpatia por tais conterrâneos.

Enfim, vai viver para contar e recontar seu triste auto-exílio em Londres, enquanto companheiros eram torturados e mortos lutando pelo fim da ditadura militar. Sendo merecedor de uma composição de Roberto Carlos, “rei” e ícone da alienação da Jovem Guarda.

Ao contrário do que o periódico afirma, através da jornalista Sonia Racy, o passar de tempo não parece ter lhe trazido tanta sabedoria assim. Enfim, prefiro ficar com a versão da década de 1960 de Caetano e de sua canção que dizia: É proibido proibir!

Saudações cafonas...

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Ode a burguesia



Só para quebrar o lado sisudo de minh'Alma, refletido aqui nesse blog, abrimos espaço ao poeta:

Vida Fácil - Cazuza

Tim-tim!

A tua corte agradece
Um brinde!
O nosso astro merece
Ao teu fã-clube fiel
Dá autógrafo em talão de cheques

Big boss
Tua mão aberta enobrece
Dignifica
Nós que sonhamos em espécie
Classic vira rolex
Sob o luar do teu deck

Só festa "relax"
Boca livre na certa
Robin Hood gentil da galera
Protetor das artes práticas
Valorizando quem sabe
Levar vida fácil, fácil
Vida fácil

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Os Trópicos mais tristes...




Na noite de sábado para domingo morreu em Paris (França), aos cem anos de idade, um dos grandes pensadores do século XX, Claude Lévi-Strauss. Seu legado estruturalista ficará para os cientistas, sobretudo das humanidades.

Nascido em Bruxelas (Bélgica) em 28/11/1908 teve sua carreira acadêmica ligada à França, EUA e Brasil, países nos quais deixou marcas de suas análises inovadoras.


Morou e lecionou no Brasil (na recém criada USP) entre os anos de 1935 a 1939, tendo excursionado pela região central do país e pela Amazônia e, dessas suas experiências e pesquisas, resultou o livro Tristes Trópicos.

Combateu o “umbigocentrismo” (etnocentrismo ocidental) e tratou os ameríndios e seu pensamento em pé de igualdade com os demais sistemas culturais.

Sua passagem pelo Brasil deu-lhe fôlego para analisar as diferenças culturais com mais benevolência e proporcionando aos povos ameríndios o estatuto de seres humanos autônomos e completos (tanto quanto os europeus), diferentemente da visão européia vigente desde os primeiros contatos com o Novo Mundo.

Na antropologia, trata-se de uma metodologia (estruturalismo) que prioriza as estruturas (sociais, políticas, lingüísticas) na interpretação de um sistema, em detrimento de fenômenos individuais. Os seres humanos são vistos menos individualmente do que como elementos das teias de relações de que participam.

Pretende entender a realidade social através de um conjunto formal de relações e inter-relações (estruturas) pelas qual um significado é produzido dentro de uma cultura.

De acordo com esta metodologia, os significados são produzidos e reproduzidos em uma cultura por meio de práticas, fenômenos e atividades que formam um sistema de significação.

Dentre sua importante e vasta obra, destacamos: As Estruturas Elementares do Parentesco (1949), Antropologia Estrutural – vol.1 (1958) e vol.2 (1973), Raça e História (1952), O Pensamento Selvagem (1962), Tristes Trópicos (1955), o Cru e o Cozido (1964) e Mitológicas (1964-71).

Em minhas duas experiências acadêmicas, a primeira na PUC/SP e a segunda na FESP, deparei-me com sua fundamental contribuição na formação do cientista social (antropólogo, sociólogo e cientista político). Mas também é inegável sua importante colaboração para se estabelecer o diálogo entre essas disciplinas com a lingüística, a semiótica, a psicanálise, entre outras.

Resta-nos agora dizer ao professor Claude Lévi-Strauss:

Bon voyage, Claude...



domingo, 1 de novembro de 2009

O império e a América Latina




Pois paz sem voz, paz sem voz
não é paz é medo

Às vezes eu falo com a vida
Às vezes é ela quem diz
qual a paz que eu não quero conservar
para tentar ser feliz

...procurando novas drogas de aluguel nesse vídeo coagido
pela paz que eu não quero seguir admitindo

Trechos da música "Minha alma" de Marcelo Yuka - O Rappa


Após anos sob o julgo de ditaduras militares, estas abertamente apoiadas e financiadas pelo governo estadunidense, a América Latina vive momentos de ajustes democráticos e, como não poderia deixar de ser, os donos do mundo sentem-se incomodados.



Uma de suas estratégias é desqualificar as escolhas eleitorais dos povos latinoamericanos (não as julgamos aqui). Outra maneira é realizar acordos militares com ”nações amigas” para nos vigiar (e punir?) para além de seus satélites na órbita terrestre.



Prontamente a Colômbia coloca pelo menos sete de suas bases à disposição da nação do norte, assinando acordo de cooperação militar para que atuem em conjunto contra o narcotráfico. Esse pelo menos é o argumento de nossos vizinhos.



Trata-se sobretudo da região amazônica, a qual atrai interesses escussos de diversos países desenvolvidos e que, com toda certeza, afetará a soberania de diversos países da região, tais como Venezuela, Equador, Brasil, Bolívia, Paraguai e por aí vai...



Seria a reedição da política: “América para os americanos (do norte!) ou poderia também ser um requentado prato típico dos EUA, ou seja, a volta do Plano Colômbia? (se é que ele se foi algum dia!)



É claro que, embora eu seja um internacionalista, defendo a soberania das nações da região, contudo a Colônia, ops Colômbia (rs), faz parte de um continente que tenta uma melhor integração para enfrentar em melhores condições as disputas capitalistas no mercado internacional. É evidente, também, que após colocar os estadunideses “pra dentro” de seu território, será difícil colocá-los para fora.



Algo ainda mais bizarro é o fato de que tal acordo deverá passar por análise e aprovação no Congresso estadunidense e na Colômbia não passará por nada, apenas a simples assinatura do mandatário desse país que insiste em se comportar como colônia.



De acordo com a “etiqueta democrática”, imagino eu, deveria acontecer uma consulta popular (referendo/plebiscito) e ampla discussão nos órgãos multilaterais latinoamericanos antes de qualquer atitude dessas. Mas essa realmente não é uma prática do atual governo colombiano.



Saudações jacobinas...