sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Os defensores da moral e dos bons costumes

“O rosto enganador deve ocultar o que o falso coração sabe.”

“As leis são como as teias de aranha que apanham os pequenos insetos e são rasgadas pelos grandes.”
Sólon

      Irritam-me sobremaneira os discursos moralistas que circulam desde os meios de comunicação (jornais, tv´s, rádios e redes sociais) até os círculos íntimos, qual sejam a família e grupos de amigos. Talvez pelo período do ano eles têm sido enunciados com maior e embaraçosa freqüência. Esse fenômeno parece fazer parte de muitas comunidades humanas, inclusive saindo muitas vezes da boca ou da pena de pensadores do campo da esquerda.
    Nos dias atuais diversas são as bocas por onde escorrem todo o esgoto moralista que assola nossa sociedade, tendo como principais nomes (não no sentido de importância) Rachel Sheherazade, Boris Casoy, Lobão, Reinaldo Azevedo, além dos já tradicionais Ratinho, Datena e Marcelo Resende.
    Como animais políticos (sociais) que somos, sei que construímos ao longo de nossa história nossos sentidos de vida, ou seja, nossa cultura. E não uma cultura única, universal a qual todos estão sujeitos, subjugados em nome de um ou mais deuses. Cada porção humana espalhada pelo planeta ao longo da história humana enfrentou diversos desafios e construiu suas soluções para dar sentido a sua existência. Ao entrarem em contato umas com as outras, (re) criamos novas formas de entender nossa experiência terrestre, algumas vezes por troca cultural mais amistosa, outras por imposição cultural (utilizando violência, inclusive institucional).
      As notícias das últimas semanas de 2013 e da primeira semana de 2014 não são diferentes do que já vimos em outras passagens de ano. Contudo, a grande imprensa gosta de tentar vender suas velhas novidades como algo inédito. Mais do mesmo. Claro que o quanto de sal vão usar para temperar nossos cérebros “semi-novos” dependerá de quem será o alvo da vez. Seja na luta para atacar uma marca que não patrocina seu meio de comunicação, seja para agradar os donos do poder no país.
       Talvez o caso mais exemplar desse período tenha sido o tratamento dado pelos diversos meios e pelos (de) formadores de opinião em relação à Ação Penal 470, vulgarizado como mensalão. A enxurrada de imbecilidades proferidas e o tratamento de outros casos (considerados por muitos como similares) nos tribunais desse país e que não são noticiados pela grande imprensa e recebem tratamento diferenciado pela justiça (inclusive pelo STF) chega a ser piada e de péssimo gosto.
    Partidos políticos de esquerda, movimentos sociais e demais forças progressistas da sociedade não devem repetir o erro de investir nesse discurso moralista e hipócrita que foi habilmente construído pela burguesia e adotado pela classe média. A luta é pela hegemonia política dentro dessa sociedade que fora arquitetada na base do toma-lá-da-cá e da confusão proposital entre público e privado e que precisa ser superada para que realmente existam mudanças sociais e comportamentais significativas para que possamos construir uma nova forma de viver em sociedade baseada na solidariedade, no valor coletivo e público, sem moralismos (arma dos babacas!) e com justiça social.

Saudações sem moralismos!

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