domingo, 5 de janeiro de 2014

Micro-conto: A espera




Então ele a fez esperar.
Esperou tanto que tudo o que cultivara se desfez.
Clamou ao tempo uma segunda chance e recebeu resposta negativa.
_ Ó deus dos tempos imemoriáveis, por que não atendeste a minha súplica e devolveste a vida aquilo tudo que cultivei?
Nenhuma resposta audível recebeu.
No fundo sabia que não seria digno daquilo. Não de resposta divina, aquele ser no qual não acredita desde há muito tempo, mas pela falta de dedicação a quem sempre lhe estendera a mão.
Perdido nos anos de sua decadência e sem pressa de tomar a primeira atitude em sua vida, acendeu o fogão e dele fez a água quente para o café e ascendeu seu derradeiro cigarro. Era plano antigo parar com o vício que lhe arrancava vida aos poucos, assim como vivera até ali.
Nenhuma esperança lhe restava. Talvez... não, não... aquilo não vivera, apenas sonhara. Então, sério e decido, escolheu hora e local para a virada em sua vida. Será que chegara realmente o momento tão esperado em sua miserável existência? Assim o seja!
Resolveu avisar uns poucos amigos sobre a data festiva e àquela que seria sua companheira eterna. Recebeu alguns olhares de reprovação e outros de indiferença. Nada que pudesse alterar sua primeira importante resolução em vida.
Deitou-se, mas a euforia que lhe tomou o impediu de dormir aquela noite.
Guardou seus pertences, arquivou uns sentimentos e saiu em busca da felicidade.
Não era homem de posses, nada havia a deixar e ninguém a receber herança. Era homem simples e não gostava da ritualística religiosa dessas cerimônias, então apenas partiu.
Mesmo sem merecer em vida o amor de quem recebera, deliberou que entregaria seu último suspiro a ela. 

A espera havia finalmente terminado.

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