" Versos Ao Meu Pai Morto "
"Meu pai nessa hora junto a mim morriasem um gemido, assim como um cordeiro"(Augusto dos Anjos)
À vezes me surpreendo a pensar em meu paino silêncio do quarto, horas tardes, a sós...Vejo-o magro e doente, a morrer sem um ai !Julgo ouvir pela noite a dentro, a sua voz !
Morreu meu pai, - meu pai... meu verdadeiro amigo...Assisti-lhe o sofrer, longos meses a fio,e ainda tenho em meus nervos, a vibrar comigo,seu último estertor... seu último arrepio...
Olhei-o ... Procurei-lhe o olhar, transido e aflito,busquei-lhe o pulso, em vão... Morto meu pai. - morrera !Tomara essa expressão de ausência, de infinito,das estátuas sem vida e dos corpos de cera !
Por mais que lhe notasse a placidez da face,o semblante sereno, o olhar frio e sem cor;por mais que a sua mão febril se enregelassee ouvisse ao meu redor mil explosões de dor;
por mais que lhe fitasse a figura impassíveljá perdida num ar de calma e inexistência,- não podia aceitar... era atordoante e incrívelque a vida se evolasse assim como uma essência!
Efêmera e fugaz, num segundo vencida,como um floco de espuma ou uma folha que cai...Eis, enfim, ao que eu vi se reduzir a vidanaquele instante absurdo em que perdi meu pai !
Era tudo irreal, monstruoso, inaceitável !A morte transcendia ao seu próprio realismo !Era como se o mar, se o céu, se o imensurávelrolassem aos meus pés, em caos, sobre um abismo !..................................................................................
Morreu meu pai. Às vezes me surpreendo a sósretendo-o na lembrança em mil detalhes vãos...Vejo-lhe o vulto, o olhar; ouço-lhe o riso, a voz,- sinto-o perto de mim, chego a tocar-lhe as mãos...
Morreu meu pai. Morreu o único homem no mundoque acreditava em mim com um cego amor, profundo,e via em meu destino indeciso e sem brilhoum caminho glorioso... uma esperança imensa ...
Pobre pai!... Que este humilde poema de seu filho,escrito em seu louvor, feito à sua memória,possa, - ao menos por isso, - honrar a sua crença!- e até justificar a minha vida inglória !
( Poema de JG de Araujo Jorge - do livro Eterno Motivo; - Prêmio Raul de Leoni, da Academia Carioca de Letras - 1943 )
Sempre achamos que a nossa dor é a mais forte que se pode existir. Sei que existem pessoas com maiores problemas nesse mundo do que eu, mas a perda do meu pai querido sempre deve ser respeitada.
Encontro-me desnorteado nesse momento em que escrevo essas linhas, pois no início da tarde dessa última quarta-feira (27/10/2010) perdi meu herói, o qual se despediu dessa encarnação aos 56 anos. Muito novo para essas coisas.
Não sei fazer biografias e, nessa hora terrível, sempre descobrimos que sabemos bem menos sobre quem amamos do que poderíamos saber. Mas sinto vontade de escrever sobre isso, pois é a única maneira que consigo dar vazão a esse sofrimento, que não é só meu, mas de toda a minha família e de nossos amigos.
Enfim, desde essa última quarta-feira, quando o desencarne aconteceu (o que todos temíamos desde a primeira internação), foi interrompida uma história de muita felicidade, mas de fases ruins também. Não vou aqui escancarar as coisas e sentimentos, não é disso que preciso nesse espaço, apenas preciso escrever um pouco para dividir a dor, seja com os amigos que lêem minhas linhas, seja para eu registrar essa tristeza que me consome.
O homem forte e de integridade que ensinou seus 4 filhos (Valter, Fabricia, Paulo e Lucas) as melhores lições sobre honestidade, amor, cuidados e dedicação àquilo que é importante (entre tantas outras coisas importantes que fez por todos nós), não passou em branco na vida. Fez diversos amigos e despertou a admiração de muitos por todas as virtudes que possui. Tenho certeza de que se todos o tivessem como pai, o mundo seria um lugar de felicidade, mas apenas nós quatro tivemos essa honra. Agradeço a Deus por tê-lo em minha existência.
Como o momento é de dor, mesmo eu sendo um espírita que flerta com o ateísmo, sei que carrego o nome que também é dele, meus irmãos carregam as virtudes que ele se esforçou para nos ensinar, todos carregamos a dor nesse momento. Espero que exista de fato um motivo para essas coisas acontecerem. Será que isso é fuga ou fé?
Enfim, como escrevi no facebook:
Meu coração está dilacerado... as tais linhas tortas levaram meu herói! E ainda tenho tanto pra dizer... pra conviver... e de um lado ou do outro (da vida), estamos sempre juntos... carrego comigo seu nome... seu amor... minha dor... a dor dos meus... Valter Jacinto, meu pai-herói! Amo mais do que imaginava.
Pai... esteja na paz de Deus! Todos te amamos muito!
Perdão pelo que não tive a sensibilidade de te proporcionar, mas tudo que me ensinou e todo amor que dedicou não foi em vão, nesse e noutros momentos dividimos sorrisos e lágrimas. Foi você quem me ensinou também a amar Fórmula 1, nosso Palmeiras e nosso ídolo, Ayrton Senna. Também me ensinou a respeitar a todos sem discriminação, não ficar calado diante das injustiças desse mundo e a valorizar o ser, não o ter.
Espero que possa sentir essas palavras aí do plano espiritual e, assim que puder, preciso de notícias.
Fica com Deus, pai amado!