sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Valter Jacinto, meu pai-herói!


" Versos Ao Meu Pai Morto "

"Meu pai nessa hora junto a mim morria
sem um gemido, assim como um cordeiro"
(Augusto dos Anjos)

À vezes me surpreendo a pensar em meu pai
no silêncio do quarto, horas tardes, a sós...
Vejo-o magro e doente, a morrer sem um ai !
Julgo ouvir pela noite a dentro, a sua voz !

Morreu meu pai, - meu pai... meu verdadeiro amigo...
Assisti-lhe o sofrer, longos meses a fio,
e ainda tenho em meus nervos, a vibrar comigo,
seu último estertor... seu último arrepio...

Olhei-o ... Procurei-lhe o olhar, transido e aflito,
busquei-lhe o pulso, em vão... Morto meu pai. - morrera !
Tomara essa expressão de ausência, de infinito,
das estátuas sem vida e dos corpos de cera !

Por mais que lhe notasse a placidez da face,
o semblante sereno, o olhar frio e sem cor;
por mais que a sua mão febril se enregelasse
e ouvisse ao meu redor mil explosões de dor;

por mais que lhe fitasse a figura impassível
já perdida num ar de calma e inexistência,
- não podia aceitar... era atordoante e incrível
que a vida se evolasse assim como uma essência!

Efêmera e fugaz, num segundo vencida,
como um floco de espuma ou uma folha que cai...
Eis, enfim, ao que eu vi se reduzir a vida
naquele instante absurdo em que perdi meu pai !

Era tudo irreal, monstruoso, inaceitável !
A morte transcendia ao seu próprio realismo !
Era como se o mar, se o céu, se o imensurável
rolassem aos meus pés, em caos, sobre um abismo !
..................................................................................

Morreu meu pai. Às vezes me surpreendo a sós
retendo-o na lembrança em mil detalhes vãos...
Vejo-lhe o vulto, o olhar; ouço-lhe o riso, a voz,
- sinto-o perto de mim, chego a tocar-lhe as mãos...

Morreu meu pai. Morreu o único homem no mundo
que acreditava em mim com um cego amor, profundo,
e via em meu destino indeciso e sem brilho
um caminho glorioso... uma esperança imensa ...

Pobre pai!... Que este humilde poema de seu filho,
escrito em seu louvor, feito à sua memória,
possa, - ao menos por isso, - honrar a sua crença!
- e até justificar a minha vida inglória !

( Poema de JG de Araujo Jorge - do livro Eterno Motivo; - Prêmio Raul de Leoni, da Academia Carioca de Letras - 1943 )
Sempre achamos que a nossa dor é a mais forte que se pode existir. Sei que existem pessoas com maiores problemas nesse mundo do que eu, mas a perda do meu pai querido sempre deve ser respeitada.

Encontro-me desnorteado nesse momento em que escrevo essas linhas, pois no início da tarde dessa última quarta-feira (27/10/2010) perdi meu herói, o qual se despediu dessa encarnação aos 56 anos. Muito novo para essas coisas.

Não sei fazer biografias e, nessa hora terrível, sempre descobrimos que sabemos bem menos sobre quem amamos do que poderíamos saber. Mas sinto vontade de escrever sobre isso, pois é a única maneira que consigo dar vazão a esse sofrimento, que não é só meu, mas de toda a minha família e de nossos amigos.

Enfim, desde essa última quarta-feira, quando o desencarne aconteceu (o que todos temíamos desde a primeira internação), foi interrompida uma história de muita felicidade, mas de fases ruins também. Não vou aqui escancarar as coisas e sentimentos, não é disso que preciso nesse espaço, apenas preciso escrever um pouco para dividir a dor, seja com os amigos que lêem minhas linhas, seja para eu registrar essa tristeza que me consome.

O homem forte e de integridade que ensinou seus 4 filhos (Valter, Fabricia, Paulo e Lucas) as melhores lições sobre honestidade, amor, cuidados e dedicação àquilo que é importante (entre tantas outras coisas importantes que fez por todos nós), não passou em branco na vida. Fez diversos amigos e despertou a admiração de muitos por todas as virtudes que possui. Tenho certeza de que se todos o tivessem como pai, o mundo seria um lugar de felicidade, mas apenas nós quatro tivemos essa honra. Agradeço a Deus por tê-lo em minha existência.

Como o momento é de dor, mesmo eu sendo um espírita que flerta com o ateísmo, sei que carrego o nome que também é dele, meus irmãos carregam as virtudes que ele se esforçou para nos ensinar, todos carregamos a dor nesse momento. Espero que exista de fato um motivo para essas coisas acontecerem. Será que isso é fuga ou fé?

Enfim, como escrevi no facebook:

Meu coração está dilacerado... as tais linhas tortas levaram meu herói! E ainda tenho tanto pra dizer... pra conviver... e de um lado ou do outro (da vida), estamos sempre juntos... carrego comigo seu nome... seu amor... minha dor... a dor dos meus... Valter Jacinto, meu pai-herói! Amo mais do que imaginava.

Pai... esteja na paz de Deus! Todos te amamos muito!

Perdão pelo que não tive a sensibilidade de te proporcionar, mas tudo que me ensinou e todo amor que dedicou não foi em vão, nesse e noutros momentos dividimos sorrisos e lágrimas. Foi você quem me ensinou também a amar Fórmula 1, nosso Palmeiras e nosso ídolo, Ayrton Senna. Também me ensinou a respeitar a todos sem discriminação, não ficar calado diante das injustiças desse mundo e a valorizar o ser, não o ter.

Espero que possa sentir essas palavras aí do plano espiritual e, assim que puder, preciso de notícias.

Fica com Deus, pai amado!



terça-feira, 12 de outubro de 2010

As armas e os barões assinalados


As armas e os Barões assinalados
Que da Ocidental praia Lusitana
Por mares nunca de antes navegados
Passaram ainda além da Taprobana,
Em perigos e guerras esforçados
Mais do que prometia a força humana,
E entre gente remota edificaram
Novo Reino, que tanto sublimaram;

E também as memórias gloriosas
Daqueles Reis que foram dilatando
A Fé, o Império, e as terras viciosas
De África e de Ásia andaram devastando,
E aqueles que por obras valorosas
Se vão da lei da Morte libertando,
Cantando espalharei por toda parte,
Se a tanto me ajudar o engenho e arte.

Cessem do sábio Grego e do Troiano
As navegações grandes que fizeram;
Cale-se de Alexandro e de Trajano
A fama das vitórias que tiveram;
Que eu canto o peito ilustre Lusitano,
A quem Neptuno e Marte obedeceram.
Cesse tudo o que a Musa antiga canta,
Que outro valor mais alto se alevanta.

Luís de Camões, Os Lusíadas (1572)
Canto I, 1--2

Depois de longo e tenebroso inverno em meus dias, retorno para destilar minhas observações a respeito das coisas desse mundão velho e cheio de desventuras. Passemos logo às questões pertinentes ao meu desafogar de sentimentos em forma de letra, imagem e insatisfação.

Passamos pelo 1º turno das eleições presidênciais e o falso moralismo da direita brasileira se apresentou desde o primeiro dia até esse malfadado 2º turno. Sim, malfadado, pois não está servindo para aquilo que muitos eleitores alardearam, e algumas campanhas também, como sendo o melhor momento para se apresentarem propostas com mais calma, profundidade e tal. Quem de fato quisesse algo assim, poderia ter consultado os sítios dos candidatos, lido a íntegra de seus programas de governo e entrado em contato com suas coordenações para pedir detalhamentos. Isso o eleitor brasileiro não faz, seja por falta de hábito, por não considerar importante ou até mesmo por preguiça.

Estamos acostumados a ter "interpretadores" (brasilianistas, por exemplo), seja nas ciências humanas, seja através da opinião dos sábios da tv, rádios e jornais, poupando-nos de utilizar nossa energia lendo, refletindo e formando nossa própria opinião. Isso não é exclusividade brasileira, muitos povos em nosso continente e em tantos outros recantos têm esse costume: herança de nossa colonização e/ou da inserção de nossa mentalidade no sistema capitalista.

A todos os amigos e leitores é sabido que sou petista e não simpatizo com o tucanato/demo’s pelo fato de representarem a classe dominante que aportou em nossas terras há mais de 500 anos. Desde lá se encastelaram em governos abertamente anti-democráticos, salvo raras exceções. E é exatamente pelo fato de não estarem no governo central há quase 8 oito anos, pelos avanços que este governo representa e, ainda, pelo início da mudança na correlação de forças em nossa sociedade que passam a (re)utilizar a estratégia do medo.

O fato é que esses antigos senhores das capitanias hereditárias, senhores de engenho (continuam latifundiários de terras!) e atuais porcos capitalistas empreendem uma “nova Cruzada” para tentar restabelecer a ordem anterior, a qual sempre os favoreceu. Para tanto têm como forte aliado setores da Santa Amada Inquisição e demais seitas cristãs. Distribuição de panfletos e email´s difamatórios (alguns escondidos no anonimato, pai da impunidade!), discursos enviesados, mudanças táticas (embustes!) e guinadas à direita conservadora e fascista são as “novas” armas dessa escória política.

Aborto e união civil de pessoas do mesmo sexo são assuntos pertinentes, devem ser debatidos por toda a sociedade, não somente pelos fascistas e igrejeiros e o modelo final, em todo Estado laico, deve ser resultado desse longo debate. Isso não se faz em período eleitoral, no qual hipócritas jogam de acordo com a torcida e não pensando no aperfeiçoamento de nossas leis, mas agindo de acordo com o gosto do freguês.

Aos barões assinalados, seus dirigentes burgueses, burocratas e seus bispos, todos hipócritas que tentam se travestir de heróis humildes e que levaram à revelia dos povos de América, África e Ásia seus impérios e sua igreja de fé cega em relação às injustiças e torturas de tais povos conquistados, digamos novamente que somos detentores de livre arbítrio, independência, autonomia e, cada dia mais, estamos mais livres de seu pensamento eurocêntrico e/ou de suas variações estadunidenses (capitalistas de merda!) e já está brotando na nova primavera dos povos o gérmen da destruição desse sistema desigual.

Enfim, volto com disposição para a batalha contra essas deformações do sistema democrático e para colaborar com o esclarecimento de todos aqueles que eu tiver a oportunidade de poder me fazer “ouvir”. Paro agora por aqui, mas volto breve para polemizar!


Abaixo a falsa devoção!

Abaixo a simulação!

Saudações eleitorais!